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Tragédia no RS pode afetar produção de arroz? Veja o que consumidor pode esperar

Estado, que é responsável por mais de 70% da produção brasileira do cereal, enfrenta temporais desde o fim de abril

Por Nubya Oliveira
Publicado em 03 de maio de 2024 | 13:06
 
 
 
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As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde o fim de abril, deixando - até o momento - mais de 30 mortos e 60 desaparecidos, acendem um alerta para os impactos também provocados na agricultura. É que o Estado, responsável por mais de 70% da produção brasileira de arroz, pode ter a colheita do cereal - que começou oficialmente em fevereiro - afetada pelas inundações. Conforme uma pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), “a colheita, que já estava bastante atrasada em relação a anos anteriores, pode ser ainda mais prejudicada.”  

Os pesquisadores ainda detalham que a tempestade da última segunda-feira (29/4) deixou lavouras debaixo d'água, inviabilizando as atividades, além de interditar estradas, o que também dificultou o carregamento do cereal. “Esse cenário aumenta as incertezas quanto à produtividade da safra 2023/24. Dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), divulgados no dia 22 de abril, indicavam que, até aquele momento, a média era de 8.612 quilos por hectare no Estado,” diz nota do Cepea. 

Segundo o Irga, estima-se que na safra 2023/24 foram plantados 920 mil hectares no Rio Grande do Sul, o que pode levar a uma produção de até 7,8 milhões de toneladas. No entanto, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), o desempenho da safra ainda não pode ser definido. “Embora as chuvas trazidas pelo fenômeno El Ninõ sejam um elemento muito favorável à orizicultura, que é uma cultura essencialmente irrigada, o excesso prejudicou o andamento do plantio,” afirma a associação. 

Mesmo que a colheita seja comprometida, o presidente do Sindicato da Indústria do Arroz no Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS), Carlos Eduardo Borba Nunes, assegura que “não vai faltar arroz no prato dos brasileiros”. “O abastecimento do país - cujo consumo se mantém em 10 milhões de toneladas há pelo menos uma década - para 2024 nós consideramos que está garantido. Vamos ter uma safra razoável no Rio Grande do Sul, porque houve um aumento de área em torno de 7%, mas não quer dizer que vai aumentar 7% a produção porque tivemos um ano de El Niño.” 

Reflexos no preço 

De acordo com o Cepea, depois de acumularem queda de 5% em março, os preços do arroz em casca encerraram a primeira quinzena de abril com alta de 1,7%. Segundo pesquisadores do centro, o resultado foi provocado pelo ritmo mais lento de colheita, agravado pelas chuvas intensas. “Além disso, produtores se mantêm retraídos, na expectativa de valorização a médio e longo prazos, diante da baixa relação estoque/consumo prevista para o final do ano-safra,” enfatiza o Cepea.

Já para o consumidor, em 12 meses, até março de 2024, o custo do arroz subiu 28,39%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). O produto compõe o grupo de alimentação e bebidas, que entre novembro de 2023 e janeiro de 2024, foi o que mais pesou no cálculo da inflação. As questões climáticas, como as altas temperaturas e o maior volume de chuvas em diferentes regiões do país influenciaram na produção dos alimentos e, consequentemente, nos preços.

Ainda não é possível mensurar se o desastre que afeta o Rio Grande do Sul irá impactar no custo do arroz e chegar ao bolso do consumidor. Mas, desde o início do ano, o governo federal demonstra preocupação com a situação. Em março, o presidente Lula se reuniu com ministros para tratar dos preços dos alimentos. Na ocasião, o governo federal afirmou esperar uma queda em torno de 20% no valor do arroz. Segundo o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, a expectativa era que a baixa de preços fosse repassada na mesma medida para os consumidores. “O fato é que estamos com a colheita em torno de 10% no Rio Grande do Sul e os preços aos produtores já desceram de R$ 120 para em torno de R$ 100 a saca. O que esperamos é que se transfira para as gôndolas do supermercado.” 

Vale relembrar que, em 2020, durante a pandemia, o preço do arroz atingiu patamares históricos. Em meados de setembro, um pacote de cinco quilos, normalmente vendido a cerca de R$ 15, chegava a custar R$ 40. Na época, um levantamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, revelou que a alta do arroz havia alcançado 100% em 12 meses. Neste período, o Rio Grande do Sul também sofria com a passagem de um ciclone extratropical, que provocou enxurradas, inundações e deslizamentos - além de outros danos. 

 

 

 

 

 

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