MÚSICA

Fãs falam sobre a expectativa para show de Madonna e relembram paixão pela diva

Rainha do Pop encerra neste sábado (4), no Rio, a sua “Celebration Tour”, com show gratuito na praia de Copacabana

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 05 de maio de 2024 | 13:48
 
 
 
normal

A porta diminuta ficava ao lado do casarão, e, ali, uma escada levava ao sótão. De jeito nenhum, mesmo com toda insistência, não foi possível convencer o dono do estabelecimento, um bar no centro de Santiago, no Chile, a vender o quadro. Mas o garçom prometeu uma recompensa, diante da exasperação do cliente.

Ao subir o último degrau, ele se deparou com bonecas, velas acesas, discos, pôsteres, coleções de revistas, adesivos de diferentes espécies, raras e icônicas fotografias. “Era um santuário para Madonna”, relembra o ator Cláudio Dias, que, na época, apresentara a última noite da peça “Nesta Data Querida”, com a Cia. Luna Lunera, na capital chilena.

A imagem emoldurada que o impactou tinha o escrito “Vogue”, sua música predileta da estrela que sobe ao palco para uma multidão de fãs em Copacabana, no Rio, neste sábado (4). “A sensação foi de estar em outro planeta, em um filme do Almodóvar”, recorda Dias, em referência ao diretor espanhol conhecido pela paleta de cores quente em seus filmes.

“Naquele lugar meio delirante”, o ator permaneceu por um tempo indefinido, “completamente transtornado”, com uma trilha sonora de Madonna ao fundo. “Como se fosse um sonho, tem horas que acho que é um sonho, mas, não, descemos para o bar e não consegui comprar o quadro ‘Vogue’, porém ganhei outro”, orgulha-se.

Porta-bandeira

Entre as fotografias emolduradas que forravam a parede da cozinha, Dias escolheu a de uma travesti vestida de porta-bandeira, segurando um estandarte, em que estava escrito, a lápis, a seguinte frase: “à imagem e semelhança”. A aquisição o inspirou a criar a personagem do espetáculo “Urgente”, um professor que sonha em ser porta-bandeira de escola de samba.

Com cerca de 11, 12 anos, Dias tinha o costume de acompanhar a mãe em lojas de departamento no centro de Belo Horizonte, e, enquanto ela fazia compras, o filho se esbaldava na sessão de discos. Foi quando lhe caiu nas mãos “Like a Virgin”, segundo disco de Madonna e o primeiro a chegar ao Brasil, há quatro décadas, consolidando o sucesso da futura “Rainha do Pop” mundial.

Junto à provocativa faixa-título, que aludia a uma garota virgem tocada pela primeira vez, “Material Girl” tocava sem parar nas rádios e na vitrola de Dias. “Escutava 24 horas por dia. Era um impacto muito grande para um jovem que, naquele momento, se descobria gay, mas ainda sem assumir. A figura, a imagem, a dança, a música, tudo junto causava essa identificação e fazia com que eu me reconhecesse”, salienta Dias, que, nas festinhas da turma, colocava, “meio escondido”, o LP de Madonna para tocar.

Assim como neste sábado (4), nas outras três vezes que Madonna veio ao Brasil, com as turnês “The Girlie Show” (1993), “Sticky and Sweet” (2008) e “MDNA” (2012), Dias esteve presente. O jornalista João de Castro também estará em Copacabana durante o encerramento desta “Celebration Tour”, que ele assistiu em Miami, nos Estados Unidos.

Surreal

“Os shows da Madonna são verdadeiros eventos de dança, música, efeitos especiais. Não é só um show de palco e luzes, tem troca de figurinos icônicos, sempre assinados por grandes estilistas, cenografia inovadora, telões, é inesquecível”, afiança Castro, que nunca perdeu nenhuma turnê da diva, inclusive fora do Brasil. Ele, no entanto, pondera suas expectativas quanto ao próximo encontro.

“Vou para curtir o ambiente, sei que, provavelmente, estarei a quilômetros de distância e não irei vê-la de perto como gostaria”, admite o jornalista, que destaca a “versatilidade” da artista, que, “aos 65 anos, continua firme e forte na ativa”. “Madonna sempre foi transgressora e acompanhou o que acontecia no mundo, dando opiniões pertinentes sobre política, religião, sexualidade”, diz. Chef de cozinha, Sinval Espírito Santo conheceu Madonna graças ao tio, que colecionava vinis da diva, e foi “uma grande influência” em sua vida.  

Sinval Espírito Santo coleciona vários artigos da cantora Madonna

Em 2016, insatisfeito com o rumo profissional da carreira, Sinval visitou a irmã nos Estados Unidos, e acabou sabendo que Madonna participaria de uma palestra sobre arte, fotografia e feminismo no Museu de Arte Moderna de Nova York. Sem conseguir retirar ingresso, Sinval esperou na porta da sala até ser liberado pelo segurança, exatamente às 19h35, como ele rememora.

“Vê-la ali sentada, com sua bolsa, sem o aparato da turnê, de uma iluminação especial, me marcou profundamente”, sublinha Sinval, que, obviamente, não conseguia prestar atenção ao assunto debatido, entretido com Madonna “cutucando o canto da unha, como a gente faz para tirar a cutícula”. “Como fã fanático, vê-la sempre foi a coisa mais surreal, absurda, e eu estava ali diante daquela situação mais prosaica de todas”, observa. Sinval, claro, vai ao show deste sábado (4). 

Liberdade

“Para além da cultura pop, tivemos outras artistas femininas reverenciadas ao longo da história, que foram grandes intérpretes e performers. Como a própria Madonna fala, ela nunca foi a melhor dançarina, nem tem uma voz fora da curva, mas ela é muito diferenciada no que faz, e trouxe a possibilidade dos espetáculos multimídia, que, hoje, é a fórmula seguida por todos”, aponta Sinval, que sustenta que Madonna “colocou a carreira em risco durante a epidemia de Aids, enfrentando o governo conservador do (então presidente norte-americano) Ronald Reagan para defender a população gay que estava morrendo e sofrendo com o preconceito”. “Ela peitou o sistema para falar de saúde, liberdade e direito ao amor, e foi muito boicotada pela extrema-direita”, assinala.

Segundo Sinval, as críticas que a cantora sofre atualmente na internet refletem o fato de ela “ser uma mulher de 65 anos que mostra que ainda pode ter sexualidade, desejo e sensualidade”. “Em 2024, ela segue quebrando barreiras e está mais nova e atual do que nunca”, defende o chef de cozinha. João de Castro reforça essa perspectiva.

“Madonna consegue abranger várias bandeiras, principalmente a favor das minorias, e está sempre antecipando tendências na música, na dança e na moda, com uma obra muito popular, de viés humanitário, pessoal e político, de suma importância para a comunidade LGBTQIA+, por mais que alguns setores torçam o nariz”, avalia o jornalista.

Cláudio Dias já está “arrepiado de imaginar o próximo show”, e, ao conferir vídeos da turnê na internet, seus olhos se enchem de lágrimas. “Sei que talvez a gente nem a veja de pertinho, mas só de sentir a energia, já é muita emoção”, finaliza o ator.

Serviço

O quê. Encerramento da “Celebration Tour”, de Madonna

Quando. Neste sábado (4), às 21h45

Onde. Praia de Copacabana (RJ), com transmissão pela Rede Globo

Quanto. Gratuito 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!