Vida plena

Ciência explica quais são os fatores que estão por trás da felicidade; veja

Relacionamentos, segurança financeira e atitudes solidárias estão entre os caminhos para ser feliz; ambiente em que vivemos também é fundamental

Por Jéssica Malta
Publicado em 20 de março de 2024 | 07:00
 
 
 
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Quando Tom Jobim cantou que “é impossível ser feliz sozinho”, ele falava sobre amor e, talvez, nem pretendia – ou mesmo imaginava – que a ciência, anos depois, provaria que sim, é de fato improvável que alguém consiga ser feliz sozinho. A descoberta em questão, porém, não é diretamente ligada ao romantismo que guiava os versos de “Wave”, canção lançada por ele em 1967. Fruto de uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, o estudo – que, inclusive, deu origem ao “The Good Life: Lessons from the World’s Longest Scientific Study of Happiness”, livro lançado no ano passado – apontou que bons relacionamentos podem ser o segredo para uma vida mais feliz e fisicamente mais saudável. 

Quem fala mais sobre o estudo é o escritor, consultor, palestrante e professor de ciências comportamentais Luiz Gaziri. “Quando temos bons relacionamentos, somos mais felizes e temos uma longevidade muito maior. Os relacionamentos também são o principal preditor de felicidade para o ser humano”, explica.

Autor dos livros “A Ciência da Felicidade” e “Os Sete Princípios da Felicidade”, o escritor conta que consultou mais de 1.200 artigos científicos para escrever as duas obras e visitou, nos EUA, 14 cientistas que se dedicavam ao tema, em instituições como Harvard, Stanford, Universidade de Nova York, entre outras. 

E é com base nesses conteúdos que ele lista, neste Dia Internacional da Felicidade, os principais fatores que contribuem para as pessoas serem felizes. Vale ressaltar, ainda, que alguns deles chegam a contradizer, ou pelo menos problematizar, crenças arraigadas na sociedade, principalmente as relacionadas ao dinheiro. Embora ele seja capaz de gerar felicidade, uma relação mais saudável com as nossas finanças está muito mais ligada à forma com a qual gastamos o que temos do que com o acúmulo de capital. “Um cientista chamado Mike Norton fala de algo que se denomina “gasto pró-social”. Segundo esse conceito, ficamos mais felizes quando gastamos nosso dinheiro com outra pessoa”, explica. Outros estudos, segundo Gaziri, também apontam que o dinheiro gasto com experiências – o que inclui viagens, passeios, restaurantes, shows e cinema, por exemplo – promove uma felicidade mais duradoura do que a compra de objetos.

É claro que, antes de descobrir como o dinheiro deve ser gasto, é importante tê-lo. E é daí que surge uma explicação para o fato de que o Brasil ocupa apenas a 49ª posição entre os países mais felizes do mundo conforme o “World Happiness Report 2023”: a desigualdade social. “A falta de dinheiro impossibilita a felicidade. É impossível que uma pessoa que não tenha segurança financeira, que não saiba se vai comer três vezes por dia, se vai conseguir pagar a escolha do filho, seja feliz”, ressalta Luiz Gaziri. 

O autor pontua ainda que a gratidão é outro sentimento diretamente ligado à felicidade. E, nesse sentido, ele dá algumas dicas para que esse tema seja incorporado na rotina. “O psicólogo Robert Emmons descobriu que, se toda noite escrevermos as cinco coisas pelas quais mais somos gratos, depois de quatro semanas, em média, vamos ter um acréscimo na nossa felicidade”, diz ele, ressaltando a importância de as dicas e movimentações serem sempre guiadas pela comprovação científica. “Esses dias vi um coach dizer que as pessoas deveriam escrever, todo dia, as 40 coisas pelas quais eram gratas, mas as coisas não funcionam assim. O número cinco não foi escolhido de forma aleatória, houve uma pesquisa por trás disso. É preciso tomar cuidado com a prescrição de quem não sabe como a ciência funciona”, orienta. 

O reconhecimento e a solidariedade são outras atitudes que também contribuem para uma vida mais feliz. Mas o ponto mais interessante apontado pela ciência é que somos mais felizes quando reconhecemos ou ajudamos alguém do que quando o contrário acontece. “Conseguimos notar que grande parte da nossa felicidade depende das nossas ações e das nossas escolhas. Muitas vezes as pessoas estão esperando que a felicidade aconteça com elas, e é até possível que isso se dê em alguns casos, como quando se casa com alguém legal ou ganha uma herança, mas não é sempre assim. Temos que agir em direção à nossa felicidade”, pontua.

Há ainda duas atitudes que, mesmo contraditórias, são importantes para a felicidade: as emoções positivas e negativas. “Segundo os estudos da psicóloga Barbara Fredrickson, as pessoas só conseguem ser felizes a partir do momento que elas são capazes de ter três emoções positivas para cada negativa”, explica. Mesmo que seja importante evitar e não buscar coisas negativas, lidar com determinada quantidade de negatividade pode surgir como um impulso ou um motivador. “Muito estresse é horrível para nossa saúde, nossa cognição, mas os cientistas descobriram que a dose certa tem benefícios. Um pouco de desconforto com a minha forma física, por exemplo, vai me motivar a me matricular em uma academia. Se estou um pouco estressado com as minhas finanças, vou ter que me mexer para cuidar melhor delas”, exemplifica. 

Apesar de reconhecer que existem muitas escolhas e atitudes que podem contribuir para que alguém seja feliz, Gaziri reitera que, mais do que tudo, é importante ter a compreensão de que o ambiente em que vivemos afeta a nossa felicidade de uma forma mais intensa do que a nossa individualidade. “É um erro fundamental acreditar que a personalidade molda o futuro. O ambiente está em primeiro lugar. Infelizmente, é difícil que uma pessoa que está sempre devendo, que não sabe o que vai comer, ou se vai comer, seja feliz. Esse ambiente não vai permitir. Por isso, é importante que o governo faça um trabalho para garantir segurança financeira às pessoas. Como alguém vai ficar feliz sem saber se vai sobreviver? E é dessa forma também que o país perde, porque quando estamos felizes somos mais produtivos e mais criativos”, explica. 

Dia Mundial da Felicidade: saiba como surgiu a data e a importância de falar sobre o tema

Celebrado mundialmente nesta quarta-feira, 20 de março, o Dia da Felicidade foi instaurado em 2012 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo reconhecer a relevância da felicidade e do bem-estar como metas universais e inspirações para políticas públicas em todo o mundo. “A data representa uma oportunidade significativa para refletir sobre a importância da felicidade e do bem-estar na vida das pessoas. Celebrar o Dia da Felicidade nos lembra que a busca por uma vida feliz e plena é uma jornada compartilhada por toda a humanidade, independentemente de fronteiras geográficas ou sociais”, destaca Luis Gallardo, presidente e criador da Fundação Mundial da Felicidade (World Happiness Foundation), instituição que, segundo ele, tem missão de tutelar a felicidade como um direito de nascença global. 

De acordo com Gallardo, a discussão sobre a felicidade torna-se ainda mais importante nos tempos atuais, principalmente porque vivemos um contexto em que questões como sofrimento mental e estresse estão cada vez mais presentes na vida das pessoas. “Abordar a felicidade e o bem-estar em discussões públicas, políticas e no dia a dia contribui para desestigmatizar questões de saúde mental e promover abordagens mais holísticas e inclusivas para o desenvolvimento humano. Falar sobre felicidade nos encoraja a repensar e reestruturar nossas comunidades, ambientes de trabalho e sistemas educacionais para serem mais apoiadores e conscientes das necessidades humanas fundamentais”, pontua.

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