Helenice Laguardia

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Helenice Laguardia escreve sobre Economia em Minas. Fique por dentro das atualizações do Minas S/A.

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Prefeito de Mariana Celso Cota quer acordo de até R$ 6 bi por queda da barragem

A temporada Minas S/A Desenvolvimento e Construção tem hoje o primeiro episódio, com Celso Cota, prefeito de Mariana (MG) nas plataformas de O TEMPO. A cidade de Mariana tem a décima quinta economia do Estado baseada principalmente na extração do minério e no turismo.

Por Helenice Laguardia
Publicado em 05 de maio de 2024 | 07:26
 
 
 
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A temporada Minas S/A Desenvolvimento e Construção tem hoje o primeiro episódio, com Celso Cota, prefeito de Mariana (MG) nas plataformas de O TEMPO.

A cidade de Mariana tem a décima quinta economia do Estado baseada principalmente na extração do minério e no turismo. Mariana foi a primeira capital de Minas Gerais, a primeira cidade e a primeira diocese de Minas sendo chamada de primaz de Minas.

De acordo com Cota, o foco de Mariana hoje está no minério de ferro diante de um complexo minerário que está dentro do planejamento das grandes mineradoras do Brasil e em franca expansão.

"Além da Vale e da Samarco, que estão no nosso território, nós temos a Cedro também começando com investimento e com um projeto de expansão para a cidade de Mariana", conta.

O prefeito de Mariana conta que aguarda a repactuação para um acordo de reparação pelos danos causados com o rompimento da barragem de Fundão em 2015.

"É um momento que nos preocupa muito pela lentidão", afirma. Celso Cota diz que os impactos sociais na cidade de Mariana e em alguns municípios que foram atingidos são graves, constantes e crescentes. "Por falta de repactuação nós estamos com falta de recursos para poder sanar problemas seríssimos que a gente vem acumulando devido às atividades minerárias no nosso território", afirma.

Mariana tem hoje 6.000 famílias morando em áreas de risco, com ocupação irregular.

Na saúde, o prefeito contabiliza que até 2015 havia uma proporção de cerca de 400 atendimentos diários nas unidades básicas de saúde.

"Hoje nós temos 1.200, 1.300 atendimentos diários e crescendo. Ou seja, essa despesa hoje é uma despesa fixa para o município, com base de cálculo do fundo de participação de uma população de 70 mil habitantes. Arrecadamos em relação a 70 mil habitantes, mas produzimos despesas sociais para uma população de 110 mil habitantes", compara Cota.

Com uma arrecadação anual de R$ 700 milhões e déficit que chega a R$ 3 bilhões, Celso Cota avalia que o déficit social é muito grande.

"Nós pontuamos isso agora num estudo que fizemos sobre o impacto da queda da barragem do Fundão, no aspecto social da cidade. Mobilidade urbana, trânsito, saúde, educação, a pressão que a cidade sofre hoje com toda essa característica modificada no nosso território, o grande número de pessoas flutuantes, que levam uma carga muito maior na busca de serviços sociais, ou seja, nós temos uma arrecadação para atender bem uma população de 70 mil habitantes, mas temos um impacto promovido por mais 50% dessa população que não está sendo considerada no último Censo, e ela é toda oriunda e promovida pelo momento que nós estamos vivendo em Mariana depois da queda da barragem", explica Celso Cota.

Veja, na íntegra, a entrevista com Celso Cota:

A seguir, a entrevista na íntegra do prefeito de Mariana, Celso Cota:

HL: Prefeito, quero começar um pouco com a sua trajetória. Você já foi prefeito de Mariana/MG em outros mandatos e agora retoma, tendo assumido por somente 1 ano. Como está essa administração? E baseado na sua experiência, o que a gente pode esperar por aí?  

CC: Olha, Mariana/MG é um desafio muito grande, né. Eu fui prefeito de 2000 a 2004, depois de 2005 a 2008, depois voltei em 2013 novamente à prefeitura. E esse mandato que eu deveria ter assumido em 2020, só conseguimos assumir a partir de agosto de 2023. Nesse período aí de vários mandatos à frente da prefeitura de Mariana eu assumi também a Associação Mineira de Municípios por 2 mandatos, e também a Associação das Cidades Mineradoras, a AMIG, por duas oportunidades também. Então eu volto a dizer que Mariana é um grande desafio, mas é um desafio também com problemas comuns a todas as cidades do Brasil, e desafios muito pertinentes a uma cidade mineradora com a importância de Mariana, que passou por momentos complicados na sua vida. Tem uma história de mineração muito interessante que começou lá no Ciclo do Ouro, que nos proporcionou ali ganhos, não só para Mariana, mas para Minas Gerais, para o Brasil e para o Mundo de forma diferenciada.   

HL: Mariana era a maior produtora de ouro, não é? Uma das maiores do Brasil? 

CC: Mariana foi a maior produtora de ouro do Brasil, a Mina da Passagem fez história, né, é um negócio muito interessante, e um ouro subterrâneo. Nós temos ali minas de ouro que saem de passagem de Mariana e chegam até o centro de Mariana, então é uma história muito interessante, com milhares de pessoas que trabalharam naquele período em Mariana. O Ciclo do Ouro em Mariana era muito forte, deixou uma cultura muito interessante, um patrimônio histórico que nós estamos preservando que é uma fonte de atração turística muito grande também.  

HL: É, Mariana é patrimônio cultural, né, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) desde 1945, tem muita importância lá. Ouro ainda tem produção lá, Prefeito, ou não? 

CC: Mariana tem ouro, mas o ouro hoje não é tão explorado, aliás muito pelo contrário. O foco de Mariana hoje está no minério de ferro, que tem um território muito grande, o território de minério é muito extenso, compreende ali e faz divisa com Ouro Preto/MG, Santa Bárbara/MG, Catas Altas/MG, chegamos até também a Barra Longa/MG, é um território minerário muito importante, é um complexo minerário que está dentro do planejamento das grandes mineradoras do Brasil, e está em franca expansão, com tudo isso ainda podemos dizer que está em franca expansão. 

HL: Ou seja, ainda tem muito tempo ali de minério de ferro para ser explorado, não é uma mina que termina agora para os próximos anos como em outra cidade de Minas Gerais? 

CC: Não. Mariana nós temos que, como em outras cidades, a gente já tem que pensar em um momento onde a cidade possa viver sem a mineração, porque é um bem finito, mas nós estamos ainda no momento de expansão, nós temos muito território ainda, muitas minas que não foram ainda exploradas, né. Além da Vale e da Samarco, que estão no nosso território, nós temos a Cedro também começando com investimento e também com um projeto de expansão para a cidade de Mariana.  

HL: Prefeito, Mariana/MG tem um desafio enorme aí de equacionar a tragédia que aconteceu em Mariana já há quase uma década e ainda sem ter resolvido totalmente a questão das indenizações. Como está sendo essa discussão com a sociedade, com o poder público e com a empresa?  

CC: Olha, nós estamos num momento de repactuação, aguardando essa repactuação. É um momento que nos preocupa muito pela lentidão, pela falta de foco das próprias mineradoras, aí eu falo Vale do Rio Doce, eu falo a própria Samarco, e falo da BHP também, que são as donas da Samarco, né, 50% cada uma. Mas é importante dizer que a Justiça, o Ministério Público, precisam também dar uma pauta mais fixa, mais focada na questão da repactuação, porque talvez alguém pode ganhar com o tempo, talvez a própria mineradora, mas os impactos sociais na sociedade da cidade de Mariana e em alguns municípios que foram atingidos são graves, constantes e crescentes. Por falta de repactuação nós estamos com falta de recursos para poder sanar problemas seríssimos que a gente vem acumulando devido às atividades minerárias no nosso território. 

HL: Quais são esses problemas, Prefeito? 

CC: Principalmente a questão da… depois da queda da barragem do Fundão, nós tivemos em Mariana uma série de oportunidades de emprego, aonde nós tivemos várias e várias pessoas de todas as partes do Brasil sendo atraídas para cidade de Mariana, onde o nosso Sine, que é um sistema nacionalmente integrado, ofertando mais de 1000 vagas todos os dias no nosso território fez com que várias pessoas de outras regiões, principalmente Norte e Nordeste, Norte do Norte, Norte do Nordeste, viessem para a cidade de Mariana atraídos por essas oportunidades. A cidade não foi devidamente preparada para os impactos da queda da barragem, e nós tivemos um impacto imediato que é a queda da arrecadação. 

HL: Sim, que aí parou a produção toda… 

CC: Parou a produção toda, porque as barragens foram colocadas em risco e todas elas foram reavaliadas. Nós passamos 2 anos ali com uma produção muito baixa de minério de ferro na nossa região, com isso nosso ICMS caiu, nosso CFEM caiu. 

HL: Que é o imposto da mineração… 

CC: Movimento imobiliário caiu, comércio caiu de certa forma também, houve muito desemprego, e depois nós tivemos um processo inverso que é o anúncio dos investimentos. O anúncio dos investimentos fez com que Mariana fosse motivo de atração de mão de obra. 

HL: E aí teve a construção toda do distrito de Bento Rodrigues. 

CC: Começou-se esse processo. E esse processo se deu com base na cidade de Mariana. E aí o impacto foi muito grande, porque Mariana não se preparou para receber essas famílias. Para você ter uma ideia, Helenice, Mariana tem hoje 6 mil famílias morando em áreas de risco, ocupação irregular, chamadas invasões. Existe grilagem de terrenos em Mariana hoje. Que terrenos são esses? Áreas verdes, áreas de preservação ambiental e áreas privadas também que foram ocupadas irregularmente, trazendo um impacto social muito grande, porque ali você tem que manter abastecimento de água, acessibilidade… 

HL: Vem uma chuva forte e acaba com tudo, barracos, vem toda aquela ocupação desordenada. 

CC: Desordenada que traz um impacto em todas as áreas de Mariana, principalmente na saúde, nos serviços sociais da cidade, na educação, nas vagas de creche. Mariana, só para você ter um dado importante que a gente costuma colocar como fonte, no último Censo em Mariana, no ano passado, registrou-se 70 mil pessoas como moradores fixos da cidade de Mariana, reconheceu 70 mil como moradores fixos, mas também ela identificou 35 mil moradores flutuantes na cidade de Mariana.  

HL: Quer dizer, vão lá, trabalham e voltam para as suas cidades, passam uma temporada lá? 

CC: Estão morando atualmente na cidade de Mariana, mas dentro da metodologia de identificação de moradores, o Iphan não pode ainda registrar como morador fixo, reconhece como morador flutuante. E esses moradores flutuantes fazem com que a carga de serviço do município seja elevada. Por exemplo, na saúde, nós tínhamos até o ano de 2015, mais ou menos, uma proporção de 400 atendimentos diários nas unidades básicas de saúde. Hoje nós temos 1200, 1300 atendimentos diários e crescendo. Ou seja, essa despesa hoje é uma despesa fixa para o município, com base de cálculo do fundo de participação de uma população de 70 mil habitantes. Arrecadamos em relação a 70 mil habitantes, mas produzimos despesas sociais para uma população de 110 mil habitantes.  

HL: Ou seja, você estava me falando, são R$700 milhões de arrecadação por ano, é uma arrecadação valiosa, robusta se a gente for comparar com outras cidades, mas o déficit chega aí a R$3 bilhões, de tudo que a Prefeitura teria que investir para que a cidade estivesse andando de uma maneira correta.  

CC: O déficit social é muito grande. Nós pontuamos isso agora num estudo que fizemos sobre o impacto da queda da barragem do Fundão, no aspecto social da cidade. Mobilidade urbana, trânsito, saúde, educação, a pressão que a cidade sofre hoje com toda essa característica modificada no nosso território, o grande número de pessoas flutuantes que ali ficam, que levam uma carga muito maior na busca de serviços sociais, ou seja, nós temos uma arrecadação para atender bem uma população de 70 mil habitantes, mas temos um impacto promovido por mais 50% dessa população que não está sendo considerada no último Censo, e ela é toda oriunda e promovida pelo momento que nós estamos vivendo em Mariana depois da queda da barragem. 

HL: O que vem agora, Prefeito, porque esse acordo ainda não saiu, já estamos esperando aí há quase 10 anos, o que a prefeitura quer e o que a empresa oferece, por meio da Fundação Renova? Qual é a saída para isso tudo? 

CC: Olha, a saída para isso tudo, eu acho que nós temos que trabalhar em várias frentes. O município precisa entender a sua posição. Esse trabalho nós estamos fazendo, Helenice, que é identificar como nós estamos hoje, quais os impactos hoje a cidade vive, quais são os danos causados pela mineração de uma forma geral, qual é o nosso potencial minerário, qual que é a nossa proposta de intervenção física, programas sociais para que Mariana possa resgatar qualidade de vida, melhorar a mobilidade urbana, melhorar seu tratamento na educação e na saúde, melhorar seus serviços sociais, melhorar a segurança, dar a garantia de habitação para as pessoas, resolver a questão de ocupação desordenada que está na cidade de Mariana hoje, voltar a ter uma cidade ordenada com serviços em todas as suas frentes de qualidade para que a gente possa de fato melhorar a nossa qualidade de vida. Mariana hoje tem uma qualidade de vida extremamente desqualificada em relação ao que ela arrecada e em relação ao que ela tem de potencial. Então o que nós estamos cobrando é mediante a esse estudo que nós fizemos, um impacto que não está focado no impacto só ambiental, porque o impacto ambiental causado pela queda da barragem é o impacto que tem a necessidade de intervenção do Estado, porque é intermunicipal, atingiu a bacia do Doce (Rio Doce), a bacia do Doce tem uma importância muito grande, ela é intermunicipal e interestadual, é de obrigação do Estado e da União recuperar. Mas nós temos os impactos sociais e ambientais locais. 

HL: Dentro da cidade. 

CC: Dentro da própria cidade e do nosso próprio território. A cidade de Mariana até hoje não tem esgotamento sanitário resolvido. 

HL: Isso é assim terrível, né? De ter essa constatação, não é só Mariana, a gente tem outras cidades também, mas levando-se em conta o poder econômico de Mariana, as empresas que estão lá, e não ter isso até hoje. Qual foi a conta que vocês fizeram em relação, desde essa queda da barragem da Samarco e Mariana até hoje? O que é que a empresa teria que ressarcir aos cofres públicos municipais?  

CC: Nós estamos trabalhando, Helenice, dentro de um estudo da situação que nós estamos vivendo hoje, do que nós precisamos para melhorar. Por exemplo, a questão da mobilidade urbana, nós temos que fazer vários investimentos em torno de Mariana para a gente melhorar a mobilidade. Nós temos 1000 carretas que passam diariamente pelo entorno de Mariana, nós temos uma sobrecarga enorme de ônibus que levam funcionários para as mineradoras, nós temos caminhonetes, estruturas dessas próprias mineradoras no entorno do nosso território. Um território que não está preparado para essa carga toda. 

HL: E que tem um patrimônio histórico e cultural lá que é infinito, que precisa ser preservado.  

CC: A ser preservado, e nós temos um Ministério Público e o Iphan atentos às cobranças necessárias para que esse patrimônio não fique também em risco.  

HL: É, porque senão depois começa a rachar tudo, a gente sabe de cidades que tem uma passagem de caminhão muito forte, que as rachaduras começam nas casas, nas igrejas, gera um impacto, né? 

CC: Abalando toda a infraestrutura da cidade. Então nós diagnosticamos, fizemos um estudo em relação a isso e apresentamos soluções, né. O novo Boulevard,que é um projeto antigo do Gustavo Penna entorno do Ribeirão do Carmo, aonde a gente estrutura as margens do Ribeirão do Carmo, dando sustentação às suas margens, e ao mesmo tempo a gente cria uma via de pedestre e de ciclovia que pega toda parte da cidade de Mariana e todo o percurso da cidade de Mariana, ajudando a diminuir o fluxo de carro que muitas vezes é provocado pelo deslocamento das pessoas bairro/centro. Dois outros projetos muito interessantes, um é uma nova alça, um novo contorno da cidade de Mariana, tirando o fluxo de carreta da mineração que passa hoje no nosso entorno.  

HL: Aí não passaria dentro da cidade? 

CC: Não passaria dentro da cidade. É um projeto que está praticamente pronto, investimento de mais de R$200 milhões que é fundamental que aconteça na cidade de Mariana. Ou seja, parte desse recurso a gente entende que com a repactuação a gente consegue resolver, mas parte desse entendimento também nós temos que entender que faz parte da sobrevida da mineração no nosso território. Sem esses investimentos a mineração fica em risco no próprio território, porque se ela não tiver organizado essa logística para que ela possa ter uma exploração saudável e garantir a própria…  

HL: A expansão também da produção, né? 

CC: A logística da própria produção dela é impossível manter. Então esses projetos estão sendo pensados, elaborados e planejados prontos para serem executados. Nós temos novas alças também que ajudam a ligar Mariana a Mariana nova, que nós temos hoje, que é uma parte da cidade que cresceu muito, está montante da cidade, nós temos mais ou menos 30 mil pessoas morando, parte dessas pessoas em área de ocupação irregular, que nós precisamos resolver também. Então a parte de logística de Mariana, a mobilidade urbana, nós precisamos investir algo em torno de R$400 milhões na cidade de Mariana, com projetos já pensados, estudados e identificados e sendo elaborados. 

HL: Só na área de logística, né? 

CC: Só na área de logística e de mobilidade urbana.  

HL: Aí tem o esgotamento sanitário que você falou. 

CC: Nós temos o esgotamento sanitário e nós temos o ordenamento também dessas áreas que se expandiram de forma desorganizada, que é a expansão desorganizada dentro da cidade de Mariana. Nós identificamos, de acordo com o Plano Diretor, uma área a ser investida em região a montante da cidade, mas em direção a Ponte Nova/MG, é uma área de 6 milhões de metros quadrados, que é uma área livre hoje, que é possível a gente fazer uma expansão urbana, ordenar melhor essa ocupação irregular, tirar essas famílias de áreas de risco, alojá-las em uma expansão extremamente segura e pensada dentro dos parâmetros legais hoje de um território urbano. O projeto está pronto, é um projeto do Gustavo Penna de 10 anos atrás, que está na cidade de Mariana, está sendo totalmente revisado e nós vamos precisar de um investimento de mais ou menos R$300 milhões para poder colocar em prática. É necessário, é possível.  

HL: Até mesmo para não acontecer uma outra tragédia, não é?  

CC: Para não acontecer uma outra tragédia e para fazer o território de Mariana ficar sustentável. O que nós estamos buscando hoje das mineradoras? É essa parceria. A mineração não pode estar na cidade de Mariana com a distribuição irregular, porque a mineradora é uma sociedade, com município e um próprio território. 

HL: É, ela tem várias vantagens, ela gera uma cadeia de fornecedores enorme, longa, que dá muito trabalho na região, não só na cidade onde ela está instalada, Mas tem que ter todas as contrapartidas aí, né? Para não inviabilizar também a própria cidade onde ela está.  

CC: Ela é a nossa grande fonte de renda, né, Helenice. 

HL: Você estava me dizendo que desses R$ 700 milhões de arrecadação, 20% vem da mineração.  

CC: Vem do CFEM, mas da mineração vem 80%, porque CFEM é um recurso direto da mineração, mas o ICMS nosso a base dele é a mineração, a nossa receita própria hoje também que é valorização imobiliária, ITBI, IPTU, tudo é promovido pela cadeia da mineração. 

HL: Se não fosse ela não teria nada disso. 

CC: 80% é da mineração, o que garante também os recursos para que a gente possa ter educação de qualidade, promover a saúde de Mariana.  

HL: Pagar o funcionalismo

CC: Pagar o funcionalismo. Hoje nós temos quase 5 mil pessoas trabalhando só na prefeitura de Mariana. 

HL: Gera renda no Comércio, gera o pedido na Indústria, é uma roda, né? 

CC: Então é fundamental que a gente entenda que a mineração para nós é questão de vida, é sobrevida. Só temos um detalhe, nós temos que fazer uma mineração mais consciente, nós temos que desenvolver os pilares econômico, social e ambiental de forma sustentável mesmo, nós somos hoje uma parceria que em muitas vezes está desigual na sua distribuição, porque nós temos a matéria-prima. 

HL: Sim, tem o minério que está lá. 

CC: E as mineradoras têm o recurso para poder investir e tem o know-how, só que a divisão desses ganhos, desses lucros tem que ser partilhada de forma mais justa com a sociedade. 

HL: Você considera que não está sendo? 

CC: Não, nunca foi.  

HL: Você acha que um dia será? 

CC: Eu acho que nós estamos chegando no momento de ser e as próprias mineradoras estão conscientes disso, que elas precisam participar um pouco mais dos projetos de desenvolvimento da sociedade, do território em que elas atuam. E é isso que a gente espera das mineradoras, esse tipo de diálogo que nós estamos desenvolvendo na cidade de Mariana, e estamos tendo sucesso de certa forma a ser comemorado em relação a isso. Temos reuniões semanais com as mineradoras, não só para tratar a questão da repactuação, mas para pactuar parcerias de desenvolvimento, parcerias que fazem com que a gente tenha um território mais estruturado. 

HL: Tem o diálogo então, Celso, com as 3 mineradoras, a Samarco, a Vale e a Cedro, que são as mineradoras que têm atuação em Mariana. Nesse ponto das mineradoras, da mineração, ao mesmo tempo, não é, Celso, em que ainda tem essa repactuação que vocês querem, você fala aí em R$20 bilhões que seria o valor para a Prefeitura, não é? Esse valor está sendo negociado? Como que está sendo aceito aí pela mineradora, pela Samarco por meio da Fundação Renova, que é quem tem ficado à frente dessas negociações. 

CC: Pois é, Helenice, o que acontece é uma negociação. Quando a gente vai para uma negociação, nós enquanto território minerário, nós temos que apresentar o nosso território com os seus impactos e com os seus potenciais. Então o que nós fizemos foi esse estudo dentro desses impactos para que a gente possa corrigir e fazer com que Mariana seja de fato uma cidade estruturada, de qualidade de vida elevada, diante de um território rico como nós somos, nós temos um custo. Agora, repactuar é renegociar. Nós entendemos que todos temos que fazer um esforço nesse sentido. Então é claro que nós colocamos um número na mesa para ser negociado. 

HL: Como ele foi aceito aí pela empresa? Esses R$ 20 bilhões. 

CC: As empresas sempre acham que é muito, e as empresas sempre acham que já fizeram também alguns esforços no sentido de alguns investimentos no nosso território. Tem sido feito algum esforço, tem sido feito alguns investimentos, mas muitas vezes sem a anuência do município. Anuência de que forma? Sentar com o município, discutir as prioridades, os recursos a serem investidos, como ser investidos, a base de custo dessa contratação. Tem muito investimento que foi feito pela Renova em Mariana que se eu tivesse na prefeitura, eu não aceitaria. 

HL: Por quê? 

CC: Por que criou base, por exemplo, gastaram numa comunidade, em Mariana, que não tem nem jogador de futebol, fizeram um complexo esportivo com campo modelo FIFA, de um custo enorme de manutenção em uma região que não tem esse tipo de retorno. Nós poderíamos ter trabalhado toda a pavimentação da região, projeto de desenvolvimento econômico da região, cada família melhor capacitada, investir nas unidades territoriais ali particulares, que são as pequenas sitiantes, os fazendeiros da região, melhorar a estrutura daquela região, então é um dinheiro que num certo momento parece que você tem ele direcionado como fonte de desenvolvimento social, econômico e humano, mas não está conseguindo atingir esse objetivo. 

HL: É muito bonito, mas não é tão funcional, né? Tem essa discussão. 

CC: Nada funcional e de um valor de manutenção eterno. 

HL: Que aí a prefeitura tem que arcar com a manutenção dessa cara e ao mesmo tempo é Hospital, é Saúde, é Educação, é Esgotamento Sanitário, é Iluminação da cidade, é Segurança Pública, são todos aqueles pilares que fazem parte de uma Prefeitura. 

CC: Enquanto que de um outro lado nós temos uma saúde precária, uma demanda enorme na nossa saúde básica, não temos uma UTI na cidade, não temos UTI neonatal na cidade, um hospital muito fragilizado, ou seja, falta discutir o que realmente é prioridade num município para que ele possa se desenvolver. 

HL: Mas o que seria assim um acordo aceitável por parte da prefeitura? Qual seria o valor para isso ser equacionado o mais rápido possível e não demorar aí mais 10 anos, digamos assim? 

CC: Nós temos sentado na mesa com TRF-6, o Tribunal Federal que nós temos aqui em Minas Gerais, e tem sido muito positivo os diálogos. O que a gente percebe é que as mineradoras estão colocando uma certa dificuldade em poder finalizar essa proposta. Recentemente a Vale tomou uma condenação de danos morais, de R$47 milhões. Esse tipo de condenação, Helenice, é uma condenação que a Vale vai contestar por anos e anos, por décadas, podendo nunca, de forma prática, aportar esse recurso, se aportar esse recurso, ele vai para um fundo Federal que os territórios locais não vão conseguir ver a cor desse dinheiro, não vão ver esse recurso sendo aplicado naquele território. Então esse tipo de condenação às mineradoras não interessa, às cidades e aos territórios locais, não interessa a nós como administradores locais e nem ao povo da nossa cidade. Nós queremos é um recurso com fonte definida e com destino definido. 

HL: Carimbado, né. Para a cidade e não para cair em um cofre comum.  

CC: Para mobilidade urbana, para a infraestrutura de educação, para novos negócios, para parque industrial, para investimento na saúde e na infraestrutura como um todo da cidade, isso não estamos vendo nessa repactuação. Então isso nos preocupa, e ao mesmo tempo nós temos uma demanda acontecendo em Londres - Inglaterra, que é um processo um pouco diferente que está acontecendo em Londres com data marcada para esse ano de 2024 acontecer. Então a gente prefere um acordo na justiça do Brasil, com esse tipo de clareza e de destinação, do que uma definição em Londres com bases que a gente ainda não conseguiu compreender. 

HL: Não tem acesso, né. Mas o que seria assim um valor pacificado? Para a Prefeitura, para os órgãos todos, você já colocou esse valor na mesa? 

CC: Nós temos conversado de forma, não vou dizer paralela, mas de forma mais direta com vários atores do Ministério Público, e eu acho que um valor que Mariana consegue entender como um valor que ajuda ela a desenvolver esses projetos estruturadores é algo em torno de R$5 a R$6 bilhões. 

HL: Para equacionar toda essa tragédia de Mariana, que foi provocada pela Samarco em 2015. 

CC: Mas é importante a gente também defender, Helenice, que nós temos aí toda uma ação envolvendo aqueles atingidos individuais. 

HL: Que aí são ações individuais, cada família questionando. 

CC: E legítimas. 

HL: Claro, com certeza. 

CC: Então é claro que não é fácil esse acordo ser equacionado, mas ele é necessário. 

HL: Ele precisa sair, não é, Celso? 

CC: Precisa. Nós já vamos para 9 anos agora da tragédia, daqui a pouco nós estamos lamentavelmente chegando aí a 10 anos da tragédia, onde a reparação, a cada vez que ela demora mais, ela se agrava. 

HL: E ela vai ficando mais cara, vai ficando mais complexa, não é? 

CC: Você tem que ver, Helenice, por exemplo, na saúde, como que a característica de impacto da queda da barragem começa a mudar a própria saúde da cidade de Mariana. Nós temos identificado uma carga muito pesada em relação à saúde mental da cidade de Mariana a partir da queda da barragem.  

HL: É um tratamento sem fim, né, da saúde mental? 

CC: Então nós temos que mudar também o aspecto de atendimento da própria saúde básica com muito foco na saúde mental, é mais um custo a ser implantado e necessário hoje ser considerado para a saúde pública da cidade de Mariana. 

HL: Sim, e a estrutura mesmo da cidade que precisa ter uma estrutura melhor do que é oferecido e da economia da cidade. Celso, e ao mesmo tempo que tem essa frente de trabalho em relação a essa indenização, essa repactuação dos danos da tragédia de 2015 em Mariana, a gente tem ao mesmo tempo a própria Samarco num projeto de expansão, de retomada de expansão da produção dela, que a maior parte é em Mariana. A gente tem aí um investimento que a empresa quer fazer que ultrapassa os R$7 bilhões, com geração de empregos, na maior parte deles, na cidade de Mariana, e ela está em processo de licenciamento e de condicionantes. E o processo tem que passar todo primeiro em Mariana e já está na etapa final aí no Conselho de Patrimônio da cidade, não é? Isso caminha para um fim para que a Samarco possa dar prosseguimento a esse licenciamento no Governo do Estado, para aquelas licenças que precisam, a licença prévia de operação, de instalação, como que Mariana está encarando esse novo ciclo de investimentos da Samarco?  

CC: É muito interessante, Helenice,  porque Mariana está fazendo isso com muita responsabilidade. Nós reforçamos muito a estrutura da nossa Secretaria de Meio Ambiente. Para você ter uma ideia, Mariana deve ser, do interior de Minas, a segunda cidade, parece que só tem uma cidade, me parece que é Contagem, que tem uma licença expedida pela Secretaria de Meio Ambiente para que você possa elevar o seu nível de licenciamento. Mariana hoje está trabalhando para poder licenciar os próprios projetos de mineração do nosso território, nós estamos elevando a classe 6 de poder de licenciamento. Isso significa que nós estamos investindo muito no corpo técnico dessa área tão importante para nossa cidade que é a questão ambiental hoje. 

HL: E tendo mais controle também, né, nesses processos?  

CC: Então nós estamos contratando mais geólogos, toda a estrutura técnica que é pertinente a secretaria nós estamos contratando, não só para licenciar, mas para ter uma compreensão melhor também na hora de fiscalizar, nós estamos fazendo essa estrutura com muito cuidado. Agora, o CODEMA – Conselho Municipal de Defesa e Conservação do Meio Ambiente já assentou sobre essa aprovação, foi aprovado pelo CODEMA e agora está no COMPAT - Conselho Municipal do Patrimônio Cultural que já deve começar durante essa semana até na semana que vem levar para aprovação. Eu acho muito importante que Mariana hoje tem uma sociedade que se organizou bem, que discute bem, que consegue perceber os impactos que a mineração causa, porque ela causa impacto. Qualquer tipo de investimento hoje e de progresso, os impactos vêm juntos. Uma cidade quando cresce, ela cresce nas suas oportunidades, cresce na qualidade de vida de certa forma, mas ao mesmo tempo ela impacta a vida do cidadão em vários aspectos, muitas vezes ela polui mais, ela cria impacto visual, ela cria impacto de ordenamento mesmo de trânsito e de mobilidade, esses impactos acontecem. Nós temos que mitigar esses impactos e fazer uma mineração cada vez mais sustentável nesse aspecto. Mariana está passando por esse processo…  

HL: Você já pediram várias condicionantes e eles aceitaram? O que vocês estão pedindo? 

CC: Nós ajustamos com a Samarco algumas condicionantes, não só na questão ambiental, mas também na questão de investimentos. Então parte dessas estruturas que eu comentei com você, desses projetos estruturadores, nós estamos iniciando com a Samarco também uma parceria para que a gente possa desenvolver esses projetos. Nós fechamos agora R$80 milhões de condicionantes de investimentos, tanto na área de infraestrutura, na área de saúde e de educação, mas também de fortalecimento de preservação do nosso patrimônio. Acho que é muito importante que o COMPAT nessa sua discussão e agora aprovação, ela vai querer que o município seja contemplado com esse tipo de investimento, nós temos feito isso junto com Samarco.  

HL: Isso tudo com a Samarco, R$ 80 milhões?  

CC: Além dos recursos que nós estamos trabalhando com a Samarco nessas condicionantes, nós estamos conseguindo ir além das condicionantes. A Samarco atua em um território que tem 3 comunidades que são históricas e que tem equipamentos tombados ali, como a igreja de Santa Rita Durão, a igreja de Camargo, então a Samarco, a Cedro Mineração estão com projetos de preservação, de recuperação também desses patrimônios. 

HL: Que são patrimônios que demandam muitos recursos, né? Uma equipe toda especializada. 

CC: Nós estamos lançando em Mariana naquela região de mineração um projeto muito interessante, Helenice, que depois você pode entrar no YouTube, e coloca no YouTube assim: “estrada parque caminho da mineração cidade de Mariana!”. É um projeto de geração de renda, de valorização profissional e de capacitação fantástico que nós estamos desenvolvendo com a parceria da Vale do Rio Doce, da Samarco Mineração e da Cedro Mineração. Então para mostrar o seguinte, que para a gente ter uma mineração sustentável, a gente tem que ter uma sociedade que pensa, que planeja. 

HL: Participativa, né. 

CC: Participativa. E a Prefeitura tem hoje essa preocupação de criar essa relação, de fortalecer essa relação, mas com o entendimento da sociedade. 

HL: O que a sociedade quer, né. A sociedade sendo ouvida.  

CC: O que a sociedade quer e o que é possível fazer, e envolver cabeças pensantes que nós temos na região. Nós temos a Fundação, nós temos a Universidade Federal de Ouro Preto, então nós temos ali condições da gente criar grupos de trabalho para fazer uma análise da cidade, fazer uma proposta de evolução da própria cidade com um grupo de trabalho forte. Então nós estamos desenvolvendo isso permanentemente, estudando, analisando a nossa cidade e buscando soluções para os problemas que hoje existem, mas que nós temos condições de resolver. 

HL: É, porque só com esse novo investimento aí da Samarco, você estava me dizendo, são mais 3 mil empregos aí, e se isso tudo for da cidade, tem mais geração de emprego e de renda, mas tem que ter mais capacitação, mais hospital, mais escola, mais tudo, não é? E uma produção de minério também que ela já volta de novo a minerar totalmente o que minerava antes da tragédia da barragem, né, em 2025. Esses planos todos…  

CC: Se você for analisar aí, Helenice, o que isso pode impactar mais ainda a cidade, se a cidade não enfrentar os seus problemas hoje, ela acaba inviabilizando a própria mineração do amanhã. Então nós estamos levando esse recado para as mineradoras e elas estão entendendo perfeitamente bem. Acho que nós estamos atrasados com esses investimentos, mas é importante que nós estamos retomando e com projetos sendo mostrados e colocados à mesa, e o recurso a ser captado, onde captar e como a gente coloca esses projetos solicitados o mais rápido possível, e os valores desses projetos. Nós estamos falando aqui de várias áreas a terem investimento, agora, para você ter uma ideia, nós temos um problema seríssimo de água também, de abastecimento de água em Mariana. Nós precisamos investir algo em torno de quase R$800 milhões para resolver o problema de água em Mariana. 

HL: O que é, está faltando água? 

CC: Nós temos uma ETA Sul, Estação de Tratamento da Região Sul, que abastece uma parte da sociedade. A cidade cresceu muito, áreas de ocupação irregular, quando o pessoal ocupa uma área irregularmente, ele faz um gato na energia, ele deságua seu esgoto a céu aberto, mas ele sangra o sistema de água também de forma aleatória fazendo com que exista uma provocação de desperdício enorme. Então nós precisamos ordenar isso tudo, temos que fazer um novo investimento na ETA Norte na cidade de Mariana que vai custar algo em torno de R$300 milhões. 

HL: São investimentos altíssimos. 

CC: São altíssimos. Como a gente faz isso? Tem que ser com recurso que é gerado na própria região, do nosso sistema próprio gerador de recurso que é a própria mineração, aí a repactuação resolveria também essa questão, mas é investimento emergencial.  

HL: É, que precisa para esse ano, para 2025. 

CC: Senão vai se agravando cada vez mais. 

HL: E o volume vai só aumentando também, né, do recurso. 

CC: São feridas já identificadas, com soluções já pensadas, planejadas e que precisam ser colocadas em prática rapidamente. 

HL: Tem que sair o dinheiro.  

CC: Tem que sair o recurso. 

HL: Esgotamento sanitário. Você disse que a primeira fase são R$ 50 milhões, esse dinheiro vem de onde, se não teve ainda a repactuação?  

CC: Esse dinheiro vem com a obrigação da Renova, ou seja, da queda da barragem, oriundo da queda da barragem, em contrapartida de investimentos em saneamento das cidades atingidas. Então a cidade de Mariana apresentou o projeto, nós estamos com a primeira etapa já licitada e sendo já colocada com ordem de serviço, as obras já iniciaram. São interceptores de esgoto, que é a primeira fase, nós estruturamos toda a cidade fazendo esses interceptores onde as ligações individuais também acontecerão. E a segunda etapa é um interceptor maior, a margem do Ribeirão do Carmo e estação de tratamento de esgoto que nós vamos licitar agora ainda esse ano, mais ou menos mais R$70 milhões de investimento.  

HL: E tem financiamento do BDMG. 

CC: É recurso que está alocado no BDMG das mineradoras junto à Renova. Agora, é interessante, porque eu acredito que com essas obras todas executadas Mariana em dois anos, dois anos e meio vai ter 80,90% do seu esgoto devidamente tratado e lançado de forma correta na bacia do Doce. 

HL: Porque senão também é mais um que está poluindo o rio, né. 

CC: É mais um poluidor, porque os maiores poluidores hoje dos nossos rios e córregos realmente são gerados no próprio território, né, é o esgoto sanitário. 

HL: É, que não tem tratamento adequado e cai diretamente no rio. 

CC: Se não tiver tratamento adequado como é que vai fazer a recuperação tão esperada na bacia do Doce, que já vem sofrendo com essa poluição constante de mineradoras e empresas, mas acima de tudo de esgotamento sanitário. 

HL: Celso, ainda tem aí as placas fotovoltaicas, tem essa energia limpa aí que a Prefeitura também está colocando em prática, não é? Como é que tem sido esse projeto?  

CC: Eu acho que é importante, Helenice, todo município trabalhar a sustentabilidade, então nós temos que colocar em prática. A energia do município tem uma conta muito alta, né. 

HL: Impacta demais. 

CC: Impacta muito. Os prédios públicos, a energia pública, as ruas iluminadas impactam muito. Nós temos a fotovoltaica que, hoje, o mundo todo está voltado para energia limpa, para a geração de energia limpa. E os territórios municipais estão com programas e estão muito antenados a essa possibilidade. O município de Mariana está com um projeto onde nós vamos investir em torno de R$8 milhões nessa área, algo em torno de R$2 milhões já foi investido agora e nós estamos com três prédios públicos com placas de geração de energia fotovoltaica, que vai nos trazer algo em torno de R$40 mil, de R$50 mil de economia mensal. 

HL: Na conta de luz, né. 

CC: Mas a proposta do município de Mariana é realmente executar todo o projeto de energia sustentável na cidade de Mariana, vamos produzir a nossa própria energia. 

HL: E vender a própria energia, né? O que não for consumido ali vê se consegue colocar na rede de distribuição. 

CC: Esse Selo Verde que eu acho que todos nós temos que buscar, né. A sustentabilidade energética, mas também a sustentabilidade de saneamento. Então Mariana com 100% de água tratada, com 100% de esgoto tratado, produzindo sua própria energia, contribuindo para o meio ambiente… e muito interessante também, que nós estamos fazendo em parceria com a Renova, e é bom destacar, que é um projeto muito importante que está sendo implantado em Mariana, que é um centro de recolhimento de resíduos sólidos. Mariana deve ser uma referência com esse projeto devidamente concluído, e como uma governança à altura da sua grandeza nós vamos ter 100% dos nossos resíduos sólidos com destinação correta. Resíduos eletrônicos, resíduos de construção civil, pneus… 

HL: Que é um outro grande problema também, né?  

CC: Coleta seletiva. Então Mariana vai ser uma cidade assim, nós estamos buscando esse reconhecimento, cidade sustentável. E nós temos levado essa proposta para as mineradoras, porque isso é um portfólio muito interessante para as mineradoras. 

HL: E para novos investidores aqui também, não é? Na própria cidade. E também para as empresas que têm ações aí na bolsa e tudo, elas são muito demandadas por isso aí, não é, dessa sustentabilidade? 

CC: Ações de responsabilidade.  

HL: Agora, tem um outro projeto que eu queria falar com você no programa, que é o das escolas, educação integral. Vocês conseguiram colocar nas escolas que a cidade tem, como é isso? 

CC: Helenice, é muito interessante, porque qualquer discussão de sociedade, de desenvolvimento, nós vamos falar em educação, né, de formação. De ciências, de tecnologia, educação de qualidade. E o Brasil tem uma deficiência muito grande na educação, e a educação para ela começar a ter qualidade, ela precisa começar no fundamental, é a base, são os primeiros anos ali de orientação escolar. Então Mariana tem essa consciência, está dentro do nosso plano de governo e nós em 5 meses conseguimos colocar todas as escolas de Ensino Fundamental da nossa cidade em tempo integral, e levamos para o extra classe 3 áreas fundamentais para o desenvolvimento da sociedade: educação patrimonial, nós temos um patrimônio histórico muito forte, um viés e um potencial turístico atraído por esse patrimônio de forma diferenciada, é importante destacar que esse patrimônio nosso está sendo todo recuperado, que é uma das cidades do Brasil que mais investem em recuperação de seu patrimônio histórico, tombado. 

HL: Como tem sido esse investimento assim? 

CC: Muito em parceria com o PAC das cidades históricas, que a Dilma lançou há 10,12 anos atrás. Depois agora veio a segunda etapa do PAC, mas em parceria também com as mineradoras, com a Samarco agora nós estamos conseguindo um investimento em vários programas da cidade recuperando igrejas, patrimônios significativos de características construtivas daquela época do século XVIII, como a Casa de Rótulas de Santa Rita Durão, que é uma casa que tem uma forma de construção muito específica. 

HL: Precisa de mão de obra específica para recuperar, né? 

CC: Aí nós estamos também colocando em Mariana, implantando escolas de ofício, formando ali pintores, recuperadores. 

HL: O artesão, né, para ele voltar. 

CC: O artesão recuperador de um patrimônio que está ali e que gera renda e que gera oportunidade de emprego também. 

HL: O turismo lá também tem uma participação enorme, não é, na arrecadação de Mariana? Tem sido forte ou ele precisa também ser retomado com mais vigor aí?  

CC: O turismo tem sido muito bem trabalhado, nós temos falado muito com o nosso pessoal na cidade de Mariana o seguinte: “nós temos que organizar bem a cidade”. O turista quando chega tem que encontrar uma segurança qualificada. Nós temos guardas municipais na nossa cidade, nós formamos mais uma turma da guarda municipal agora, nós temos um comando da guarda muito voltado para a atenção ao turista, nós precisamos ter 100% da água tratada e do esgoto tratado, nós precisamos melhorar nossa questão da mobilidade. 

HL: Tem que ter até placa, né, na cidade? 

CC: A sinalização. O calendário cultural tem que ser cada vez mais discutido e aprimorado.  

HL: É, você falou que tem agora circuitos, torneios, o futsal do Cruzeiro… tem um calendário esportivo aí que agrega valor ao turismo, né? 

CC: E é interessante, Helenice, que Mariana hoje em todos os finais de semana tem grandes eventos na cidade acontecendo. Então na área da cultura, na área de esporte, nós temos agora um encontro regional evangélico que vai acontecer nesse final de semana de abril, no mês de maio nós temos o Festival da Vida, no mês de julho nós temos o Festival de Inverno, então nós temos um calendário muito forte durante todo o ano que realmente tem feito com que muitas pessoas vejam Mariana como destino turístico. E é interessante que nós estamos a 1 hora e 30min, 2 horas de Belo Horizonte, 110km, 120km, que dá para passar um final de semana, fazer com que a cadeia econômica provocada pelo turismo… 

HL: Tem que ter uma estrada melhor, né, Celso? As estradas precisam melhorar em Minas, até para essa infraestrutura estimular ainda mais esse turismo, para eu querer sair de casa e ir lá no final de semana.  

CC: A estrutura viária no estado de Minas hoje está muito prejudicada, né, Helenice. Se você olhar hoje a necessidade de investimento nas nossas grandes BR’s e MG’s, nós estamos precisando de investimentos muito altos. 

HL: É igual você me falou, né, você veio para cá para me dar entrevista e, quer dizer, pode demorar 1h e 30min, como 2h e 30min, como 3 horas, dependendo, se tiver algum acidente na estrada. Quer dizer, isso desestimula também o turismo, a pessoa vai pensar inúmeras vezes antes de ir, antes de sair de casa para enfrentar uma estrada dessa.  

CC: A gente quando vê, o potencial de Minas Gerais está muito focado nas cidades históricas, né. A Região das Águas tem uma força de atração muito grande, a Região de Montanhas, mas o nosso patrimônio histórico, o que acontece nas cidades históricas de Minas Gerais tem sido a grande atração turística de Minas em relação ao turismo nacional e internacional. Nós temos o Iron Bike, que é uma das maiores provas de bike da América Latina, é uma prova que atrai atletas de mais de 20 países aqui da América Latina e do Mundo inteiro. E é uma prova muito forte que mobiliza toda a cidade de Mariana e já tem 15 anos que acontece na cidade de Mariana, e superlota os hotéis, as ofertas de comidas. 

HL: Restaurantes, hotéis, é tudo, né, todo mundo lucra. 

CC: De Mariana e de toda região, porque o turismo tem muito esse foco, né, que você tem que fortalecer o território, não pode deixar ser apenas ali uma localização pontual, mas a relação da estrutura regional. 

HL: Têm que todo mundo estar integrado e trabalhando no mesmo nível, né? 

CC: Mas voltando ao tempo integral nas escolas, hoje nós temos todas as escolas em tempo integral até o 9º ano, e o 1º e 2º período em tempo integral também, nós aumentamos as ofertas de creche na cidade de Mariana, ou seja, Mariana é reconhecida como berço da cultura de Minas e o berço da educação de Minas Gerais. Então quando nós chegamos à Prefeitura, a gente começou a perceber o Ideb só em queda, o Índice de Desenvolvimento da Educação de Mariana, então nós precisamos retomar. Com isso nós criamos uma estrutura muito forte na Secretaria de Educação, montamos uma equipe pedagógica muito forte e trouxemos as nossas crianças para a proteção do ambiente escolar, como foco também da formação e da conscientização. Então nós temos essa grade também escolar como educação patrimonial e educação ambiental. Uma outra orientação que nós temos também é social, com o foco em preconceito, na formação de uma sociedade mais inclusiva.  

HL: É, isso aí tem que ser cada vez mais discutido, não é, Celso? 

CC: É um clamor da sociedade hoje, isso é pauta de discussão mundial. 

HL: Tem uma outra questão que eu gostaria de ver com você, que é o Dom Luciano. Como está o processo de beatificação dele, que começou em 2014? É uma figura também essencial na história de Mariana, você me disse que teve contato com ele inúmeras vezes, que ele foi um mentor de várias ideias para a cidade. A gente pode ter aí uma esperança nesses próximos anos agora de termos mais um beato para Minas Gerais, o Dom Luciano? 

CC: O turismo religioso de Mariana é muito forte, né. A nossa história é muito embasada na força da igreja católica, da religião muito forte. Dom Luciano foi um arcebispo assim que Mariana teve um grande ganho com a presença dele, botou um olhar muito cuidadoso sobre o patrimônio da cidade, mas botou um olhar muito grande também e muito cuidadoso sobre a sociedade, você criar uma sociedade mais justa.  

HL: Mais humana e mais fraterna, né? 

CC: Eu me lembro muito bem que uma vez ele chegou na Prefeitura, ele foi abrindo as portas da Prefeitura e chegou até o meu gabinete: “Prefeito, a pobreza em Mariana está crescendo muito”. Aí eu mostrei para ele um estudo que a nossa pobreza estava muito focada na mãe chefe de família, naquela mulher que não tem um marido, que é mãe solo, com 2, 3 filhos, à margem da sociedade, com pouca formação familiar, pouca formação escolar, mas que precisava de uma oportunidade. E ali nasceu um projeto muito interessante, conversando com o Dom Luciano, que é um projeto de renda mínima, aonde o município daria uma atenção a essas famílias com uma renda mínima mensal de um valor de meio salário mínimo, mas garantindo a estrutura alimentar, dando uma cesta complementar forte para cada família, mas acima de tudo trabalhando a formação dessa mãe, levando para ela cursos, palestras, e o Dom Luciano era um dos grandes palestrantes. Então nós pegamos esse projeto, que hoje já tem algo em torno de uns 20 anos na cidade de Mariana, que é um modelo na nossa cidade em que nós atendemos 500 mães chefe de família nesse projeto. E é um projeto de capacitação, você pega uma mãe dessa e está transformando ela em melhor mãe, melhor vizinha, melhor cidadã. 

HL: Melhor gestora. 

CC: Melhor gestora, e trazendo os cursos para que ela possa sair dessa margem de insegurança e poder ir para o mercado de trabalho de forma capacitada. Projeto que nasceu junto com o Dom Luciano.  

HL: Nossa, muito bom, né, ter uma cabeça dessas pensante numa cidade, com essa visão de longo prazo, de plano plurianual, não é, Celso? 

CC: E é muito interessante do Luciano é que ele queria assistir, queria resolver questões imediatas dessas pessoas que ficavam mais à margem da sociedade, mas acima de tudo ele pensava na promoção humana, sempre na promoção humana, em como tirar esse cidadão da margem de risco da sociedade, da sarjeta, promovendo o cidadão, então essa sempre foi a proposta do Luciano. 

HL: Ter uma renda mais justa, né? Numa cidade tão rica. 

CC: Uma sociedade mais equilibrada. Que é o papel inicial do Governo, tudo o que você faz é pensando naqueles que mais necessitam. É a saúde, é a educação. Por que você tem uma educação pública? É para aqueles que não tem condição de pagar uma educação particular, uma escola particular, que tenha educação pública, mas que seja de extrema qualidade. 

HL: E que tenha condições de chegar a uma faculdade, de fazer cursos, como qualquer outro de uma escola particular. É só assim que se faz uma sociedade mais justa. 

CC: Tanto a educação pública como a saúde pública, elas têm condição de estar num nível de promoção de extrema qualidade, porque ela tem recurso hoje. Se você otimizar esses recursos, colocar eles de forma responsável, programar, planejar e executar de forma cuidadosa e responsável, o resultado vem muito rápido.  

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