Não veio da CBF, nem das torcidas, nem dos próprios atletas, mas de uma mulher a cobrança mais enfática de um posicionamento dos jogadores de futebol sobre a prisão de Robinho no Brasil e a libertação de Daniel Alves na Espanha, ambos condenados por estupro. Leila Pereira, a presidente do Palmeiras (e uma das poucas mulheres no comando de uma equipe nacional), criticou o silêncio da categoria sobre o assunto. “Isso foi um tapa na cara de todas nós, mulheres”, afirmou a dirigente.
No Brasil, a cada sete minutos ocorre um estupro. Em todo o ano passado, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram 74.930 ocorrências registradas, sendo mais de um terço os casos do chamado “estupro de vulnerável”, quando a vítima tem menos de 14 anos, possui uma deficiência ou enfermidade ou é incapaz de oferecer resistência por motivos diversos, como embriaguez.
Por motivos culturais, vergonha ou ameaça, esses números não dão conta da realidade completa. De acordo com o Instituto Patrícia Galvão, organização de defesa dos direitos das mulheres, somente entre 10% e 15% dos casos de violência sexual são efetivamente denunciados às autoridades policiais.
Por isso é tão importante romper o silêncio sobre o assunto e tão pertinente a cobrança de Leila Pereira para que os jogadores de futebol se posicionem sobre o tema. Os casos de abusos cometidos no meio esportivo não são novidade, mas a decisão judicial que referendou no Brasil a prisão de um jogador de fama internacional imposta por uma Corte italiana é um marco no sentido do combate à impunidade. Infelizmente, a decisão da Justiça espanhola trocando punição por pagamento pecuniário age no sentido contrário, do acobertamento e do mito de invulnerabilidade de agressores famosos ou ricos.
Então, é necessário um sonoro basta por parte dos jogadores profissionais, afastando qualquer ranço de corporativismo ou preconceito. Que usem sua imensa capacidade de projetar a voz e serem ouvidos para que toda a sociedade entenda que ninguém pode estar acima da lei e que o corpo e o desejo da mulher não são troféus a serem tomados como troféus. Não é não!