Dra. Meira Souza

A polarização da saúde e a dependência medicamentosa

Mudar a maneira como lidamos com medicação

Por Meira Souza
Publicado em 02 de setembro de 2023 | 07:50
 
 
 
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É comum eu receber pacientes com um quadro importante de dor. Eles vêm com a seguinte recomendação: “Meu médico disse que eu não posso usar medicamento X ou alimento Y, anti-inflamatório, corticoide, alimentos verdes, e assim por diante”. Essa situação é o resultado de uma medicina muito fragmentada.

É como pessoas diferentes arrumando uma casa, cada uma se responsabilizando por um cômodo, deixando aquele cômodo arrumado, mas jogando lixo em outro.

Com o orgulho de ter seu “cômodo” arrumado, os médicos ignoram as consequências e os “cômodos” que estão deixando “sujos” durante esse processo de cura.

Se o médico fosse totalmente responsável pela saúde integral daqueles que atendem, ele não poderia encaminhar o problema para outro médico e determinar para o paciente o que o outro médico não deve fazer.

Às vezes, quando o paciente chega no meu consultório referindo muitas restrições de outros médicos, eu tenho vontade dizer ao paciente para ele solicitar que o médico que fez as restrições trate a dor dele. Não o faço pois não seria elegante, nem produtivo. 

Mas eu também gostaria de fazer um pedido aos médicos: por favor, não usem medicamentos que, silenciosamente, levam o paciente a um quadro de dor. Medicamentos que parecem inocentes, mas devagarinho vão inibindo a função da adrenalina e com isso causam um prejuízo na performance muscular, aumentam a perda de minerais, diminuindo assim o limiar para a percepção de dor. Tornando-os mais sensíveis à ela, pioram a imunidade, aumentando o risco de infecções.

Ou seja, remédios possuem efeitos colaterais, mas um médico criterioso conhece as interações medicamentosas e seus riscos.

Em algumas situações as dores extremas são desafiadoras, e o mais importante é ter critério e cuidado. Saber como usar uma medicação, usar a menor quantidade e da melhor forma para conseguir o melhor resultado.

Deixar o paciente com dor também causa uma condição de estresse que é igualmente deletéria para o coração, rim, e causa, principalmente, um dano emocional imensurável. Gera um transtorno que atinge não só o paciente como também familiares.

Eu penso que a recomendação não deveria ser “não use isso ou aquilo”, mas focar em conhecer bem o paciente e cuidar dele buscando os benefícios e evitando os riscos. Se os riscos forem inevitáveis, tente minimizá-los.

Quero ressaltar que gostaria de poder alterar muito profundamente a maneira como lidamos com o uso medicamentoso. Percebo que temos criado cada vez mais uma relação dedependência com os remédios, seja na área da saúde física ou mental.

Remédios devem existir para nos aliviar quando precisamos, mas não devem ser nossa constante muleta de apoio. Saúde verdadeira é também ser livre de dependências. 

Meira Souza é médica e escritora
(@dra.meirasouza)

 

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