Carnaval 2016
Foliões denunciam ação truculenta da PM em bloco e organizam repúdio
Em entrevista para O TEMPO, ciclista relata agressão; Polícia Militar afirma que oficiais foram hostilizados por foliões e por isso reagiram com bombas de efeito moral
O que deveria ser mais uma noite de festa, na verdade, foi de confusão, chateação e de pessoas feridas. O Bloco da Bicicletinha, em seu terceiro ano de desfile no Carnaval de Belo Horizonte, teve o trajeto interrompido, devido a ação "truculenta" da Polícia Militar (PM), relataram foliões, na noite dessa quinta-feira (4). Uma pessoa foi presa.
Ciclistas que presenciaram a cena se revoltaram com a ação da PM, que consideraram "desnecessária" e "gratuita". A repórter Luiza Muzzi estava no local e conta que o bloco seguia tranquilamente pelas ruas da Savassi, Lourdes e área central da cidade, quando foi surpreendido por uma viatura que avançou pela calçada central da avenida Augusto de Lima, em direção aos ciclistas. "Metade do bloco já estava na praça Raul Soares e metade chegando ainda, quando os policiais aceleraram em cima dos ciclistas. Eles atropelaram uma pessoa e aí quem estava perto se juntou em volta. Foi quando desceram da viatura e começaram a disparar dezenas de bombas".
Assista ao vídeo, feito pelo repórter Lincon Zarbietti, que mostra a PM prendendo um ciclista:
Pelo Facebook, na página de divulgação do evento, os foliões pedem explicações sobre o que aconteceu e se organizam para repudiar a ação.
FOTO: Reprodução |
Protesto acontece pelas redes sociais |
Eu sempre tive uma posição muito crítica com relação ao modo de agir das polícias militares. Quando vejo videos e...
Publicado por Carlos Edward Campos em Sexta, 5 de fevereiro de 2016
Os organizadores do bloco ainda irão se reunir para decidir que medida irão tomar. "Estamos em choque. Não tem razão de ter acontecido o que aconteceu", garante Túlio Castanheira, um dos representantes do bloco.
Segundo ele, o bloco estava andando de modo rápido e não estava parado em um único ponto. "O bloco é a gente sair de bicicleta, a gente vai andando pela cidade e nunca sentimos necessidade de comunicar", afirmou.
Cerca de 500 fizeram o percurso de bicicleta, público grande e não esperado pela organização. Várias pessoas ficaram feridas com o ato, conforme os presentes.
Iniciativa popular
Em nota, a Belotur informou que o Bloco da Bicicletinha não participou do cadastramento junto à organização municipal do Carnaval , o que não é obrigatório. Leia a nota na íntegra:
A propósito de incidente envolvendo o Bloco da Bicicletinha, no centro de Belo Horizonte, a Belotur informa que a agremiação não participou do cadastramento prévio junto à organização municipal do Carnaval e não existe registro de seu roteiro, data de desfile e número de participantes, tratando-se, portanto, de organização de iniciativa popular e espontânea sem apoio oficial.
A Belotur informa também que o cadastramento dos Blocos de Rua para o Carnaval de Belo Horizonte não é obrigatório e que ocorre de forma espontânea, por parte dos Blocos, e que as informações prévias fornecidas por seus organizadores permitem ao poder público o planejamento da festa quanto à infraestrutura e apoio necessários, tais como fornecimento de banheiros químicos, mobilidade, trânsito, segurança e limpeza urbana.
Veja um outro vídeo, que flagra o momento de confusão:
"QUE COINCIDÊNCIA, NÃO TEM POLÍCIA NÃO TEM VIOLÊNCIA!"Meia noite de uma quinta-feira pré carnaval, observando a passagem de um bloco, presenciei mais uma arbitrariedade da Polícia Militar de Minas Gerais. Nossa polícia, que supostamente era para garantir que o carnaval corresse bem, distribuiu choques, balas de borracha, bombas de efeito moral e muita, MUITA violência gratuita, chegando até mesmo a passar por cima das bicicletas dos foliões com as viaturas. Um bloco, em pleno carnaval, que só espalhava alegria e diversão foi interrompido com muita truculência. Até quando a polícia, completamente despreparada, vai achar que tem o direito de agredir física e moralmente os cidadãos, destruir seus bens, prender sem motivo e usando de muita violência? Curtam e compartilhem para que isso não estrague o restante do carnaval de Belo Horizonte e para que os responsáveis sejam devidamente punidos.Ps: a placa da viatura da ROTAM com os policiais mais arbitrários era OPQ-5 ou 9 513. Adesivo da viatura: 20.649.
Publicado por Matheus Mansur em Quinta, 4 de fevereiro de 2016
Confira a entrevista feita pela reportagem de O TEMPO com o ciclista que acabou na delegacia:
O Tempo: Como tudo aconteceu? Onde você estava?
Fernando Tourinho: Estávamos em festa pedalando entre amigos, sem rumo pela cidade, num bloco que sempre participei. Estava incrível! Aí, quando chegamos na praça Raul Soares, um camburão militar da Rotam resolveu acelerar e frear forte indo em direção ao grande grupo de ciclistas, que simplesmente passava por ali sem nenhum tipo de agressão, muito pelo contrário
O Tempo: Você foi atropelado?
Fernando Tourinho: E então foi quando pedimos que eles fossem devagar, afinal tinham muitos ciclistas mesmo. E eles resolveram começar o terror, jogando o carro pra cima de mim. Eu já estava em pé na bicicleta, então, consegui escapar, mas a bike ficou embaixo do carro deles. Todo mundo entrou em pânico, inclusive eu. Gritei para eles pararem, então, eles desceram do carro (inclusive um dos policiais pulou pela janela do carro) distribuindo agressões pra todo lado. E detalhe: tudo isso aconteceu na faixa de pedestres, travessia elevada que supostamente a prioridade é do pedestre. Eles se voltaram contra mim, afinal eu era o dono da bicicleta que estava embaixo do carro.
O Tempo: A PM acompanhava o "desfile" do bloco? Ou só apareceram neste momento aí?
Fernando Tourinho: Só apareceram nesse momento.
O Tempo: E você acha que falou alguma coisa, que pode ter os "irritado"?
Fernando Tourinho: Sim, eu e todos os ciclistas nos revoltamos verbalmente.
O Tempo: E antes de eles começarem as agressões?
Fernando Tourinho: O fato deles dirigirem acelerando contra nós fez com que um grupo pedisse calma para eles, que não tinha o menor motivo deles mostrarem armas e tudo mais. Quando a minha bike foi parar embaixo da viatura, aí todos se exaltaram mais, principalmente os próprios policias.
O Tempo: Por que eles te detiveram? Prenderam só você?
Fernando Tourinho: Sim, só eu fui detido, porque atropelaram a minha bike.
O Tempo: Para onde eles te levaram? O que aconteceu na delegacia?
Fernando Tourinho: Me levaram primeiro até uma delegacia, onde coagiam para eu falar que eu tinha arremessado a bike na viatura, e não que eles a tivessem a atropelado. Depois,
fui conduzido pelos policiais algemado (sim, torceram muito a minha mão até eu pedir pelo amor de Deus) até um local onde se passa por médicos. Me maltratando o tempo todo, e depois uma delegacia na rua Itambé. Tudo com aquela delicadeza, que você pode imaginar.
O Tempo: E você foi ouvido por um delegado?
Fernando Tourinho: Ainda não. Terá uma audiência no fim do mês.
O Tempo: Você ficou na delegacia por quanto tempo?
Fernando Tourinho: De 00h20 até 5h30, sendo bastante hostilizado. Até da roupa que eu estava eles falaram. Fiquei algemado, sentado no chão. Me chutaram, enfim, um horror.
O Tempo: Como está se sentindo com tudo isso?
Fernando Tourinho: Estou em choque ainda. Estou mal demais. Nunca vivi nada nem parecido.
Fernando Tourinho é arquiteto urbanista e tem 30 anos.
Em reposta, a Polícia Militar gravou um vídeo para explicar o que teria acontecido nesta madrugada. Assista:
Atualizada às 15h54