O TEMPO DADOS

Coligações proporcionam Câmara favorável à maioria dos prefeitos eleitos em MG

Ao contrário do observado em Belo Horizonte, Executivo deverá ter apoio em pelo menos 518 cidades

Por Cristiano Martins e Carlos Amaral
Publicado em 26 de novembro de 2020 | 08:19
 
 
 
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A maioria dos prefeitos eleitos para os próximos quatro anos em Minas Gerais contará com o apoio das respectivas Câmaras Municipais durante a Legislatura 2021-2024.

Ao contrário do observado em Belo Horizonte, onde a coligação encabeçada por Alexandre Kalil (PSD) conseguiu apenas 18 das 41 vagas, as Casas Legislativas terão um ambiente favorável ao Executivo em 518 cidades mineiras. Em outras 321, mais cadeiras serão ocupadas por partidos de oposição. E, curiosamente, o cenário será de empate em Pedro Leopoldo, na região metropolitana.

Em média, os gestores iniciarão o novo ciclo com uma base de 54,3%. A vantagem numérica pode ser um diferencial para o sucesso da administração, pois tende a resultar em mais vitórias no plenário e maior velocidade na tramitação de projetos de interesse do Executivo.

A análise realizada por O TEMPO com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) leva em conta a proporção de parlamentares filiados a legendas integrantes da coligação vitoriosa na disputa majoritária.

 

 

Base sólida

O cenário se apresenta como o melhor possível para os novos prefeitos de 17 municípios, nos quais todos os vereadores eleitos são filiados a partidos que sustentaram a chapa vencedora.

Um deles é Juca Bahia (PSD), reconduzido ao cargo com 80% dos votos e o suporte de outras cinco legendas em Paraopeba, na região Central do Estado. Na avaliação dele, a população quis encerrar as disputas políticas após um “consenso” em favor do atual governo.

“Quando você tem uma oposição consciente, que critica construtivamente, não tem problema. O que aconteceu aqui foi mesmo a vontade popular de ter uma união em torno do interesse da cidade, sem brigas e buscando uma construção”, afirma.

Como já era de se imaginar, a sustentação média esperada é inferior (42%) entre os prefeitos eleitos por partidos que optaram pelo voo solo, sem formar coligação. Apenas 26 deles alcançaram a maioria nas respectivas Câmaras.

Obviamente, as conversas seguem em curso e podem alterar esses cenários. Com o fim das alianças nas eleições proporcionais, mais partidos optaram por lançar candidaturas próprias, sem que houvesse necessariamente um antagonismo entre determinados grupos políticos em âmbito regional. Além disso, o apoio ou não às ações e propostas do Executivo pode variar de acordo com o nível de independência dos vereadores.

Não foram considerados no levantamento os quatro municípios nos quais haverá segundo turno (Contagem, Governador Valadares, Juiz de Fora e Uberaba) nem as oito cidades onde o resultado encontra-se suspenso por questões judiciais (Antônio Carlos, Campestre, Ibertioga, Japaraíba, Lamim, Mariana, Pedra do Anta e São Gonçalo do Sapucaí).

 

 

Oposição total

Por outro lado, a coligação vencedora na eleição majoritária não conseguiu eleger nenhum vereador sequer em duas cidades mineiras.

Maria Lúcia Cardoso (MDB) e Nenzinho (Cidadania) precisarão lidar com 100% de legisladores filiados a partidos rivais nas Câmaras de Pitangui e Dona Eusébia, respectivamente.

Reeleito com 49,4% dos votos, Nenzinho garante não estar nem um pouco preocupado quanto à relação com a nova bancada. “Tranquilo. Todo mundo aqui é amigo, não tem esse tipo de situação. A política acaba assim que sai o resultado, porque fizemos uma campanha limpa. Teve vereador simpático à nossa candidatura mesmo sendo de outro partido. Quanto tiver votação, se for uma coisa boa para a cidade, eles vão aprovar”, diz, em tom conciliador.

Em outros 21 municípios, o novo prefeito contará com o apoio solitário de um único parlamentar.

Entre os prefeitos eleitos nas 20 maiores cidades de Minas Gerais, quem terá o maior suporte na Câmara será Vittorio Medioli (PSD), em Betim, onde 95% vereadores integram algum dos 16 partidos de sua coligação. Em seguida, aparece Wander Borges (PSB), com 80% dos apoios em Sabará.

Já os piores índices são os de Carlos Du (MDB), em Barbacena, e Gleidson Azevedo (PSC), em Divinópolis, com 6,7% e 11,8% dos vereadores eleitos, respectivamente.

 

Pluralidade é importante

Segundo o cientista político Guilherme Wagner Ribeiro, professor da Escola do Legislativo (ALMG), a diversidade é importante para o bom funcionamento das Câmaras Municipais.

No caso dos prefeitos com pouco apoio, o desafio será adotar medidas conciliadoras. “Do contrário, será difícil ele governar. Então, provavelmente, precisará tentar reverter esse quadro, revendo algumas posições e até incorporando propostas de outros grupos em seu plano de governo, para que possa ter seus projetos apreciados de forma mais adequada”, explica.

No outro extremo, a falta de oposição pode ter efeitos negativos, de acordo com o especialista. “É importante que um Executivo tenha uma oposição séria, que esteja de olho e pressionando, ainda que minoritária. É ela que normalmente assume o propósito de ler rigorosamente os projetos, encontrar problemas, criticá-los e aperfeiçoá-los”, conclui Ribeiro, destacando a fiscalização das ações Executivo como um dos papéis fundamentais dos vereadores.

 

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