Mais prefeitas e vereadoras

Mulheres sustentam a esquerda em Minas na eleição municipal de 2020

Vitórias de Margarida Salomão, em Juiz de Fora, e Marília Campos, em Contagem, no segundo turno, aumentaram força de partidos progressistas no comando das prefeituras

Por Thaís Mota
Publicado em 01 de dezembro de 2020 | 06:00
 
 
 
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O desempenho da esquerda nas eleições 2020 em Minas Gerais foi pior que o registrado em 2016. Partidos como o PT e PCdoB perderam espaço no número total de prefeituras que comandavam no Estado.

No entanto, o desempenho das mulheres no campo progressista teve grande destaque, especialmente após o segundo turno, em que o PT elegeu Marília Campos, em Contagem, e Margarida Salomão, em Juiz de Fora. 

Também não foi diferente na capital mineira. A candidatura de esquerda com votação mais expressiva foi de uma mulher: Áurea Carolina (PSOL). Ela ficou em quarto lugar na disputa, com mais de 100 mil votos, bem à frente da segunda candidatura de esquerda, de Nilmário Miranda (PT), que teve pouco mais de 23 mil votos. Os demais candidatos de esquerda juntos não chegaram a 3.500 votos.

Além disso, na Câmara de BH, a vereadora mais votada foi Duda Salabert (PDT), inclusive quebrando o recorde de Áurea Carolina em 2016, que até então tinha sido a vereadora mais votada da história na capital. Depois do PDT, os partidos com as maiores bancadas de esquerda na Câmara, PT e PSOL, também só elegeram vereadoras neste ano.

Isso não é novidade no caso do PSOL, que já tinha uma bancada de duas mulheres e permanecerá assim a partir de 2021, mas pode ser uma quebra de paradigma para o PT, que não reelegeu os vereadores Pedro Patrus e Arnaldo Godoy, dando lugar a Sônia Lansky e Macaé Evaristo – ambas eleitas para o primeiro mandato na Casa.

Na avaliação do cientista político Carlos Magno Machado Dias, de fato as mulheres sobressaíram entre os eleitos no campo da esquerda em Minas. Ele atribuiu diversos fatores a esse resultado, entre eles o crescimento das candidaturas de mulheres que, a partir deste ano, motivaram maior acompanhamento da Justiça Eleitoral no sentido de evitar as candidaturas-laranja e passaram a receber mais recursos.

“Teve um crescimento das candidaturas femininas, e os partidos de esquerda recebem melhor a militância feminina do que os de centro e de direita”, destacou.

Mas, ele apontou ainda um outro fator que considera comum à maioria dos quadros de esquerda eleitos nessa eleição: o engajamento com algum movimento ou causa social. "

Aqueles políticos ligados à esquerda mais engajados em alguma causa de movimento social tiveram um desempenho melhor”, avalia. E completou: “Todas ligadas a movimentos, mesmo Marília e Margarida sendo mais antigas, não representando uma renovação, em suas cidades elas são muito engajadas”.

Eleita pela terceira vez em Contagem, Marília Campos acredita que boa parte das mulheres eleitas pela esquerda no Estado traz consigo um histórico de luta social. 

“Acho que cresce a representatividade de quem tem história para contar, seja ela no movimento social seja ela na institucionalidade. Você pega o perfil da Macaé, ela tem representatividade no movimento negro, foi secretária tanto na prefeitura quanto no Estado. A Sônia Lansky é a primeira vez que se candidatou e foi eleita, uma grande militante do movimento social”, disse fazendo uma avaliação das vereadoras eleitas pelo PT em BH.

Marília Campos afirma que o avanço da participação feminina na política ainda é pequeno, mas que no campo da esquerda a eleição de mulheres tem se consolidado. “A esquerda está com cara de mulher ou está ficando com a cara mais feminina”, diz. 

Já Margarida Salomão, primeira mulher eleita em Juiz de Fora, fez balanço mais positivo da participação feminina na disputa. “No primeiro turno, 72% dos votos válidos foram concedidos a alguma das cinco candidaturas de mulheres. E isso não é, absolutamente, irrelevante”. O município também elegeu pela primeira vez quatro mulheres para a Câmara.

Crescimento no Poder Legislativo 

Nem só no campo da esquerda as mulheres tiveram destaque. Além de Marília Campos e Margarida Salomão, nesse segundo turno, Elisa Araújo (Solidariedade) também foi eleita prefeita de Uberaba. Esta é a primeira vez que a cidade terá uma mulher no comando do Executivo.

Houve ainda aumento da presença feminina no Legislativo. Na Câmara de BH, a bancada passou de quatro para 11 vereadoras. Além disso, houve crescimento da participação feminina também em Contagem e Juiz de Fora. Na primeira, a bancada dobrou, passando de duas para quatro mulheres. Já na cidade da Zona da Mata, que atualmente tem uma vereadora, a partir da próxima legislatura terá quatro mulheres na Casa.

Margarida Salomão celebrou o aumento da participação feminina na cidade. “A questão de gênero foi, sim, parte da pauta política dessa eleição, o que não quer dizer absolutamente que os ataques machistas tenham recuado, mas que há um avanço do ponto de vista da imaginação política da população de que o lugar da mulher é onde ela quiser, inclusive nas prefeituras e Câmaras municipais”, completou a deputada.

Já Marília ponderou que, apesar do crescimento das mulheres na política, ainda é preciso avançar muito. “Avança, mas avança pouco. Se analisarmos em termos percentuais, estão passando para o Executivo em torno de 12% a 13% no Brasil. Tem um crescimento maior no Legislativo, mas para o Executivo ainda é um número muito pequeno”, diz a prefeita eleita de Contagem.

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