O TEMPO DADOS

Partidos se aliam até a arquirrivais e formam 401 chapas diferentes em Minas

PSL está unido a partidos de esquerda em 11 municípios

Por Cristiano Martins
Publicado em 15 de outubro de 2020 | 06:00
 
 
 
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Mesmo com um recorde de chapas “puro-sangue” neste ano, o eleitorado terá uma ampla variedade de coligações na hora de escolher os próximos prefeitos e vices em Minas Gerais.

Com 33 partidos na disputa, a oferta é de 401 combinações diferentes entre as candidaturas majoritárias no Estado, segundo levantamento realizado por O TEMPO a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A sopa de letrinhas chama especial atenção em alguns casos, pois coloca lado a lado legendas de campos ideológicos absolutamente opostos no cenário político estadual e nacional. Um exemplo é a inusitada aliança entre Delermando França (PSL) e Rubinho do Ramalhudo (PCdoB) no município de Catuti, Norte de Minas.

 

 

Filiado à sigla com viés de extrema direita pela qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu em 2018, o cabeça-de-chapa garante que não há rivalidade e nem sequer brincadeiras relacionadas ao tema entre ele e o colega comunista – nos materiais de campanha, porém, o vermelho deu lugar ao azul na marca do PCdoB.

“Por ser uma cidade muito pequena, o pessoal aqui não tem essa cultura de olhar filiação partidária. A gente tem uma afinidade mais com o candidato do que com o partido, sempre foi assim. Ele demonstrou a intenção de participar, e nós tínhamos essa afinidade na oposição [à atual gestão], então ele veio somar. Foi natural”, relata França.

Legenda que mais cresceu na esteira do bolsonarismo, o PSL aparece como parceiro até mesmo do PT, principal adversário em âmbito nacional. “Somos amigos, e na cidade pequena a gente vota nas pessoas, não nos partidos”, resume o petista José Soares Caldas, o Topeca, candidato a vice na chapa de Newton Avelar em São Pedro dos Ferros, no Leste do Estado.

Militante e sindicalista na juventude, Topeca diz que a influência das duas legendas, mesmo em lados contrários, pode beneficiar o município. “São as maiores bancadas (no Congresso), e é importante conseguir emendas, porque elas são a principal fonte de recurso para as cidades pequenas. Enquanto estivermos pensando no povo, não importa o partido”, justifica.

 

Dalermando França (PSL) e Rubinho (PCdoB) formam chapa em Catuti.
(Foto: Arquivo pessoal / Divulgação)

 

O PSL forma parcerias com grupos mais alinhados à esquerda em pelo menos outros nove municípios mineiros. A legenda encabeça chapas com PCdoB, PDT, PSB e PT, e ainda compõe como vice em coligações com PDT, PSB e Rede.

O PRTB, que conta com o apoio da família Bolsonaro em Belo Horizonte, também formou alianças com partidos teoricamente antagônicos pelo interior mineiro: PDT, PSB e PT. 

Já o PT, maior partido de esquerda do Brasil e do Estado, fechou ao todo nove alianças em Minas com DEM, Patriota, PP, PRTB e PSC, além do próprio PSL, dentre as legendas com um maior viés de direita.

Veja as composições de todas as siglas no gráfico interativo ao fim da reportagem

 

Tradição

Situações como estas, obviamente, são bastante raras. Tradicionais aliados nas eleições municipais em Minas, PSDB e DEM formam a principal união no Estado, com 32 chapas majoritárias, sendo 19 delas encabeçadas pelos tucanos. MDB e PSD aparecem em segundo lugar, com 20 coligações.

Parceiros históricos no campo da esquerda, PT e PCdoB caminharão juntos em apenas seis cidades mineiras desta vez, com cinco candidatos petistas nas cabeças-de-chapa.

PSTU (nove chapas), PCO (três), Novo (três) e PCB (duas) foram as únicas siglas que não se coligaram com nenhuma outra nas disputas majoritárias e apresentaram apenas candidatos próprios a prefeito e vice.

 

 

Recorde de chapas puras

As coligações continuam permitidas nas disputas para as prefeituras, mas passaram a ser proibidas a partir deste ano nas corridas às Câmaras Municipais.

Com isso, especialistas já haviam previsto o aumento das chamadas chapas puro-sangue (prefeito e vice de um mesmo partido), como parte da estratégia das legendas na tentativa de puxar votos para os candidatos próprios a vereador.

Em Minas Gerais, o efeito dessa novidade foi uma explosão na quantidade de chapas puras: de 916 nas eleições passadas para 1.494 neste ano. Em termos relativos, elas passaram de 37% para 54,3% do total de candidaturas apresentadas.

O líder deste quesito em 2020 é o PT, com 125 chapas puras no Estado, seguido por MDB (122), PSD (94), PSDB (91) e Avante (88). 

Somado à maior fragmentação partidária, este fator ajuda a explicar, por exemplo, a grande variedade de postulantes em cidades como Contagem (16), Belo Horizonte (15), Governador Valadares, Juiz de Fora, Santa Luzia, Uberaba e Uberlândia (11).

 

 

 

 

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