As sucessivas práticas de corrupção e os intermináveis escândalos pelo país afora estão se transformando em meras estatísticas. Os órgãos fiscalizadores e os tribunais, quando não estão envolvidos em tretas, não conseguem acompanhar o volume das denúncias. Com a moralidade, estamos passando por um processo semelhante ao da degradação da segurança pública.
Há 20 anos, o nome de uma vítima de homicídio ainda aparecia nos jornais, e o assassino dessa pessoa, quando preso, era um prêmio para policiais no exercício de suas funções. Hoje, ao lerem notícias sobre crimes, as pessoas não se preocupam mais com os nomes das vítimas, mas com a quantidade delas.
Mais ou menos isso é o que está acontecendo com corruptos e corruptores. Claro que a liberdade de imprensa e o aperfeiçoamento das ferramentas de transparência da gestão pública contribuem para a exposição de um maior número de casos. Mas são o sistema político nacional, as relações entre os poderes e o comprometimento de órgãos fiscalizadores que, de fato, responsabilizam-se pela banalização das práticas ilegais com as riquezas da nação.
Nesta semana, O TEMPO mostrou que o próprio Tribunal de Contas do Estado não cumpre a lei do teto. Se quem deveria zelar pela boa prática dos Poderes Executivos e Legislativos não faz o seu papel, o que esperar dos outros?
Já a Suprema Corte do país, depois de 22 anos, considerou Fernando Collor de Melo como inocente. O ex-presidente sofreu impeachment por corrupção e, agora, pode requerer, por lei, indenização do próprio Estado brasileiro e de quem o acusou da roubalheira, afinal, ele é inocente.
Mesmo que simbolicamente, pois, na prática, qualquer que fosse a decisão do STF, não haveria como punir o réu, devido ao tempo que o processo levou para ser julgado, a condenação de Collor teria efeito pedagógico. Seria solavanco positivo para o país e suas instituições, pois estamos em um momento em que se abrem suspeitas terríveis de desvios na Petrobras.
Mas a paciência se esgotou. A verdade é que estamos fartos, mas com as mãos atadas. Para onde se olha não se vê horizonte. Apenas penumbras e uma fuligem que tira de qualquer cidadão a esperança de o Brasil ser um país minimamente digno.
Caminhamos, com olhados vendados, para um estado de exceção. É preciso começar de novo. Reformas são inadiáveis, mas do jeito que as coisas se apresentam, ficaremos exatamente como estamos: frustrados com a nossa própria expectativa. Situamo-nos numa escuridão total, procurando encontrar o buraco da fechadura com as mãos cheias de chaves erradas.
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