PAULO PAIVA

Haverá reprise?

Nos Estados Unidos, em 2016, a vitória de um “outsider, que conquistou o direito de representar o Partido Republicano, com discurso, atitudes e ações extremistas, rompeu a moderada dicotomia entre democratas e republicanos

Por Paulo Paiva
Publicado em 19 de janeiro de 2024 | 06:00
 
 
 
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Nos Estados Unidos, em 2016, a vitória de um “outsider”, que conquistou o direito de representar o Partido Republicano, com discurso, atitudes e ações extremistas, rompeu a moderada dicotomia entre democratas e republicanos. O país foi comandando (2017-2020) por Donald Trump, representante dos anseios nacionalistas, antiglobalização, anti-imigração e contrários à diversidade racial e às normas democráticas. O país ficou dividido, e a política perdeu seu espaço de diálogo e negociação.

A vitória de Biden (2020) pode ter sido um alívio para aqueles que prezam o equilíbrio e a paz, mas a polarização continuou latente. A partida da corrida presidencial do lado dos republicanos foi dada esta semana no pequeno Estado de Iowa, e Trump obteve 51% dos votos. Não pelo peso eleitoral nas primárias, mas por seu simbolismo, esse resultado coloca Trump de volta no jogo eleitoral, apesar dos processos criminais que responde, e sinaliza que a radicalização indicará o tom da campanha.

As eleições deste ano nos Estados Unidos poderão dar pistas preciosas para avaliar como poderá caminhar o Brasil em 2026. Refiro-me, particularmente, à tese defendida por Felipe Nunes e Thomas Traumann no recente livro “Biografia do Abismo” sobre o processo de calcificação das identidades políticas em torno do petismo e do antipetismo, que transbordaram para o cotidiano das pessoas, nas relações familiares, sociais e profissionais. Mais especificamente, a política ficou dividida e cristalizada entre duas personas, Lula e Bolsonaro, sem espaço para outras correntes mais moderadas.

Em recente artigo, “Polarização e calcificação”, utilizando referências de outros estudos, Simon Schwartzman pondera que “a disputa política não se dá simplesmente pela competição pelos votos de uma massa indiferenciada de eleitores, mas pela ação de grupos que procuram moldar as opiniões e orientações de seus eleitores conforme seus interesses”, o que não teria sido captado pela exaustiva e competente análise do comportamento da opinião pública realizada por Nunes e Traumann. Creio que a visão de Schwartzman não invalide a hipótese da polarização, permitindo, inclusive, supor que os resultados das eleições poderão ser afetados por mudanças nas preferências de grupos de interesses.

Não há contestação sobre o papel das mídias sociais e a balcanização de bolhas políticas, que, ao longo do processo de disputa eleitoral, serão infladas de novos adeptos. Por tão apertada, a vitória de Lula, em 2022, deixou no ar um sabor de empate. O desempenho do governo e as estratégias do lulismo e do bolsonarismo serão fundamentais para manter suas tribos ativas e pautar os debates na campanha.

Muito embora cada eleição seja única, com suas próprias circunstâncias, é bom estar atento às eleições americanas. Em 2026, haverá reprise de 2022?

 

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