Perspectivas

O futuro nos espera?

Grande parte da profunda radicalização política vigente pode ser atribuída ao presidente Lula, que, legitimado pelo voto popular, não soube, ou não quis, liderar a distensão

Por Paulo Paiva
Publicado em 29 de dezembro de 2023 | 04:00
 
 
 
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O começo de 2023 foi longo. Depois da cerimônia de posse de novo presidente, eleito legitimamente e que não recebeu a faixa presidencial do anterior, que saiu antes, o ano ainda novo foi abalado pela inusitada e violenta tentativa de tomada da Praça dos Três Poderes e consequente destruição dos símbolos da democracia brasileira. O golpe da direita antidemocrática foi evitado, deixando sinais de polarização e de maus agouros à frente.

Não obstante, o ano está findando com a aprovação da tão almejada reforma tributária, expressivo crescimento de 3% da economia, inflação bem comportada, esta, graças à resistência do Banco Central, e recorde da Bolsa; muito embora, mantendo persistente aumento da dívida pública e um ar de desconforto e de incertezas, que incomoda as pessoas e inibe a espontaneidade no brindar das taças e nos desejos de feliz ano novo.

Apesar de fazer parte da política, as polarizações nunca foram tão perturbadoras como nos últimos anos. Em artigo recente no jornal “O Estado de S. Paulo” (23.12), Marco Aurélio Nogueira assinalou que não há por que estigmatizá-las; porém, ponderou que, “quando se infiltram como ácido nas relações pessoais, familiares, profissionais, escolares, quando reduzem tudo a um combate sem tréguas e sem ponderações reflexivas entre dois campos ideológicos que se tratam como inimigos, as polarizações são paralisantes”.

Grande parte da profunda radicalização política vigente pode ser atribuída ao presidente Lula, que, legitimado pelo voto popular, não soube, ou não quis, liderar a distensão, promover a união acima das divergências e pacificar o país. Continuou mordaz em suas declarações e populista em suas ações. A sua falta de grandeza e de espírito público apequenou as relações políticas, que já estavam esgarçadas.

Estes tempos incertos, que nos roubam os sonhos e as esperanças, me lembram o poema “Os Ombros Suportam o Mundo”, de Carlos Drummond de Andrade (1940), cujos primeiros versos nos alertam: “Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus./ Tempo de absoluta depuração./ Tempo em que não se diz mais: meu amor./ Porque o amor resultou inútil./ E os olhos não choram./ E as mãos tecem apenas o rude trabalho./ E o coração está seco”.

Nestes tempos sombrios, a aceitação passiva do destino, qualquer que seja, e a inação das pessoas contribuem para a fertilidade de solo propício à polarização e a disputa do poder pelos extremistas e populistas. Reagir é preciso, querido poeta.

É hora para não aceitar passivamente o que virá, porque o futuro não é o que nos espera, mas é aquele que faremos juntos, parafraseando Henri Bergson.

Meus votos para 2024 são, pois, de esperanças; para que, movidos pelo bem comum e pela fraternidade, possamos contribuir para a construção de outro futuro, que seja diferente; que seja de prosperidade, com justiça, solidariedade e paz. Feliz novo 2024!

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