RENOVAÇÃO

Nova geração de líderes ocupa os espaços abertos na política

Às vésperas de um novo processo eleitoral, nomes tradicionais em Minas perdem influência

Por Marco Antonio Astoni
Publicado em 05 de maio de 2024 | 19:50
 
 
 
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Minas Gerais vive um momento no qual novas lideranças políticas vêm dando as cartas. Mudanças intensas no panorama político do Estado, nos últimos anos, fizeram com que nomes como Rodrigo Pacheco, Marcelo Aro, Gabriel Azevedo, Cleitinho Azevedo, Duda Salabert e Nikolas Ferreira assumissem o protagonismo das ações e das articulações.

Na outra ponta, antigos caciques da política mineira, como Aécio Neves, Nilmário Miranda, Fernando Pimentel, Antonio Anastasia e Adalclever Lopes, que até há pouco tempo tinham muita influência, hoje, embora ainda na ativa, perderam espaço, poder e influência, mesmo entre seus correligionários.

A renovação dos nomes, teoricamente, poderia significar uma renovação de ideias e uma oxigenação na política mineira. No entanto, segundo a opinião de cientistas políticos, isso não acontece necessariamente.

Para Camilo Aggio, professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais e PhD em comunicação e cultura contemporâneas, as lideranças surgidas recentemente estão ocupando espaços que foram deixados vazios nos últimos anos, mais por “culpa” dos próprios políticos tradicionais do que por mérito dos recém-chegados.

“Primeiro, o que há é uma nova geração ocupando espaços que foram deixados pelas ruínas do PT no Estado de Minas e no Brasil. Já o PSDB é aquele partido ‘tem, mas acabou’. Ele não existe mais. É uma sigla meio perdida, que só ainda não é retratada assim no jornalismo porque tem essa trajetória, essa história que se confunde com a redemocratização no Brasil.

Então, tanto o PT quanto o PSDB, que formaram as grandes coligações, as grandes coalizões, se afundaram profundamente. É uma ocupação natural (o surgimento de novos nomes)”, explica Aggio.

“Isso é um ponto. Há uma circunstância histórica, portanto, que fez com que o Estado de Minas Gerais tivesse esses espaços a serem preenchidos. A perda da força política dessas lideranças abriu o caminho para a renovação”, completa.

Desilusão

Para o advogado especialista em direito eleitoral e analista político Luís Gustavo Riani, a desilusão da população com a classe política, em meados da década de 2010, também criou um fenômeno de negação e abriu espaços para figuras até então desconhecidas.

“Essa mudança representa a proliferação de novas lideranças políticas. O tempo passa mesmo, e é preciso ter outros nomes, tanto no cenário estadual quanto no cenário nacional. Então, acho que é o surgimento disso, e em consequência de a população ter ficado meio desiludida. Aquele fato das eleições de 2018, da negação da política, acho que foi essencial para surgirem essas novas lideranças”, ressalta Riani.

Renovação não significa novas ideias e propostas

O professor da UFMG e especialista em comunicação e cultura contemporâneas[NORMAL_A] Camilo Aggio acredita que, no atual cenário, não é possível afirmar que renovação de nomes representa o surgimento de novas ideias e de novas tendências na política mineira. Para ele, os novos quadros que estão em evidência mantêm as mesmas práticas e vícios dos antigos caciques.

“Não sei se é bem uma oxigenada (das ideias), no sentido de que a política, com esses novos personagens, novas lideranças, ganharia alguma qualidade no que diz respeito a discernimento, esclarecimento, ascensão de certas lideranças que são profundamente vinculadas às péssimas e velhas maneiras de fazer a política”, afirma Aggio, que cita o que seria o principal exemplo: “O fisiologismo, inclusive, vem ganhando em recrudescimento. Assim como as próprias posições dessa nova geração (em relação a temas antigos)”.

Opinião semelhante tem o especialista em direito eleitoral e analista político Luís Gustavo Riani, que destaca que a mudança de nomes só aconteceu porque os antigos líderes envelheceram.

“Quando você pensa que as novas lideranças pensam exatamente igual às lideranças antigas, dá para perceber que não está tendo oxigenação das propostas ou mudanças na maneira de fazer política. São novas lideranças porque as lideranças antigas envelheceram, só isso. Acho que o padrão das novas lideranças é o mesmo das antigas. Então, eu não creio que dê oxigenação”.

Figura do ‘não político’ também se destaca

Na esteira do impeachment da presidente Dilma Rousseff e de uma desilusão generalizada do povo brasileiro com a classe política, em 2016, surgiu a figura do “não político”. Na maioria, eram pessoas relativamente conhecidas do público, sobretudo empresários, mas que não tinham envolvimento com partidos políticos ou com o processo eleitoral em si. O slogan desse grupo era “Sou gestor, não político”.

Alguns exemplos desse novo perfil são o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo João Doria e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. 
A tática dos “não políticos” deu certo. Afinal, Kalil, Doria e Zema foram eleitos e tiveram aprovação popular para um segundo mandato. No caso de João Doria Junior, o primeiro foi como prefeito da capital paulista, e o segundo, como governador do Estado de São Paulo.

Alexandre Kalil foi eleito prefeito de Belo Horizonte em 2016 e em 2020. Perdeu a eleição de governador em 2022, justamente para Romeu Zema, que conseguiu ser eleito para o primeiro mandato em 2018.

João Doria foi eleito prefeito em 2016 e, dois anos depois, deixou a prefeitura para vencer a eleição para governador. Doria abandonou a vida pública em 2022, quando decidiu não tentar a reeleição nem se candidatar à Presidência da República.

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