Liberdade

Moraes manda soltar Mauro Cid, preso em março pela segunda vez

Além da soltura, o ministro do STF determinou que seja considerada válida a colaboração premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro

Por O TEMPO Brasília
Publicado em 03 de maio de 2024 | 14:44
 
 
 
normal

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou, nesta sexta-feira (3), a liberdade provisória do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A informação foi confirmada pela defesa dele.

O militar foi preso, pela segunda vez, em 22 de março, no Batalhão da Polícia do Exército, em Brasília (DF). A nova ordem de soltura foi expedida por Moraes no dia que marca um ano da primeira prisão de Cid.

A última prisão de Cid foi feita após ele prestar depoimento no Supremo. Moraes alegou o descumprimento de medidas cautelares e obstrução à Justiça após a revista Veja ter divulgado áudios em que Cid critica a Polícia Federal (PF) e o ministro do STF após ter feito acordo de delação premiada. 

Moraes considerou válido o acordo de colaboração premiada de Mauro Cid. Na época da última prisão, houve dúvida sobre o possível cancelamento do acordo pelo descumprimento da cláusula de confidencialidade.

O ministro do STF é o relator do inquérito que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado e que tem Cid como colaborador. Em fevereiro, a PF fez uma operação contra Bolsonaro, generais e ex-ministros para apurar suposto envolvimento em um plano que tinha o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como chefe do Executivo federal para manter o ex-presidente no poder.

Cid já foi indiciado por associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação na investigação sobre a fraude na carteira de vacinação de Bolsonaro e de sua filha Laura. Ao todo, 17 pessoas foram indiciadas, incluindo o ex-presidente. De acordo com as investigações, o militar também teria fraudado comprovantes de imunização contra a Covid-19 para sua mulher Gabriela e suas filhas.

Relembre as falas de Cid que precederam a segunda ordem de prisão.

Mauro Cid fala em ‘narrativa pronta’

Segundo a reportagem da Veja, a gravação em que Mauro Cid ataca a PF e Moraes foi realizada ainda em março. O militar disse que os inquéritos já tinham “narrativa pronta”. Afirmou que foi pressionado a relatar fatos que não aconteceram e a detalhar eventos sobre os quais não tinha conhecimento. “Eles (os policiais) queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu”, disse.

“Não adianta. Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, completou. 

“Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: Ó, a sua colaboração está muito boa’. Ele (o delegado) até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só essa brincadeira são trinta anos para você’.” 

Mauro Cid diz que a ‘a lei já acabou’

Em outro áudio, Cid criticou Moraes e deu a entender que o ministro, que é relator de diversos casos no STF que miram o ex-presidente, queria prender Bolsonaro a qualquer custo. “A lei já acabou há muito tempo. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, declarou.

O militar ainda falou para o amigo que a PF tem feito uma filtragem das informações que oficializadas na delação. Segundo Cid, um encontro entre Moraes e Bolsonaro não foi registrado nos depoimentos. 

“Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale? Eu não vou botar no papel porque senão eu vou me f*****, mas o presidente encontrou secretamente com Alexandre de Moraes". 

As críticas contra Moraes continuaram, com Cid dizendo que o ministro do STF “já tem a sentença dele pronta”. “Acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo”. 

‘Bolsonaro ficou milionário’ e ‘eu me f****”, diz Mauro Cid

Ainda nos áudios, Mauro Cid falou da mágoa em ser tratado como “traidor” e ter o nome envolvido em manchetes diariamente. “Quem mais se f**** fui eu. Quem mais perdeu coisa fui eu. Pensa todo mundo aí. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né?”.

Ele também reclamou de Bolsonaro ter ficado "milionário" com a ajuda de apoiadores. “O presidente teve Pix de milhões, ficou milionário, né? “Para político é até bom essas p***** porque eles até conseguem se eleger fácil. O único que teve pai, filha, esposa envolvido, o único que perdeu a carreira, o único que perdeu a vida financeira toda fui eu”, desabafou.

Para explicar o motivo que fechou o acordo de delação premiada, o tenente-coronel declarou que se não fizesse isso, iria pegar “30, 40 anos de prisão porque eu estou em vacina, eu estou em joia”. Ele ainda disse acreditar que as investigações vão continuar avançando e todos que estão de certa forma envolvidos vão ser condenados. 

“Vai entrar todo mundo em tudo. Vai somar as penas lá, vai dar mais de 100 anos para todo mundo. A cama está toda armada. E vou dizer: os bagrinhos estão pegando 17 anos. Teoricamente, os mais altos vão pegar quantos?”. 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!