Temporada 2024

Quer avistar baleia jubarte no litoral brasileiro? Saiba onde, quando e como

Avistamento começa em maio e vai até setembro, mas os primeiros mamíferos já aparecem no litoral paulista

Por Paulo Campos
Publicado em 30 de abril de 2024 | 07:00
 
 
 
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A primeira baleia jubarte desta temporada foi vista na semana passada, no litoral norte de São Paulo. Trata-se de uma baleia ainda jovem, de 8 m ou 9 m de comprimento e aproximadamente dois ou três anos de idade. O registro foi feito na altura de Ubatuba por Jeferson Ramiro, capitão de um barco de passeios turísticos. Todos os anos, os mamíferos se deslocam da Antártida, onde há comida em abundância, para a costa brasileira, devido às águas mais quentes, para se reproduzirem. Se, no início da década de 1990, eram, no máximo, 1.500 baleias concentradas principalmente no litoral sul da Bahia, no ano passado foram quase 30 mil, agora espalhadas pela costa brasileira, no trecho entre São Paulo e Sergipe, com casos também no Rio Grande do Norte;

Em 2022, um monitoramento aéreo feito pelo Instituto Baleia Jubarte (IBJ), em parceria com a empresa Socioambiental e com apoio da Veracel Celulose e da Petrobras, registrou o recorde de 25 mil jubartes nas nossas águas, número que se aproxima do tamanho original da população de baleias antes da caça predatória, quando o volume de mamíferos foi reduzido a cerca de 500 a 800. “O monitoramento de sobrevoo é realizado a cada três anos e tem melhorado nossas estatísticas. Em 1998, tinha pouco mais de mil baleias, hoje são 35 mil”, informa Paulo Pinheiro Rodrigues, do Instituto Baleia Jubarte (IBJ) no Espírito Santo. Com o aumento da população de baleias, as pesquisas científicas e a capacitação de barqueiros e guias, o turismo de observação de baleias também cresceu no Brasil. Se antes era restrita ao arquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia, principal berçário da espécie, hoje a atividade já acontece em cinco Estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Norte.

A jubarte pode medir até 16 m de comprimento e pesar até 40 toneladas

A lei de 1987, que proíbe a caça de baleias, golfinhos no Brasil, foi o primeiro passo para a preservação da espécie. Em 1988, foi criado o Parque Nacional dos Abrolhos e, em 1996, o Instituto Baleia Jubarte para controlar e preservar a espécie.

A observação de baleias é uma atividade recente. “Fomentamos a observação, criamos normas e capacitamos as agências e operadoras que realizam os passeios. Criamos também os Espaços Baleia Jubarte e as ilhas interpretativas”, explica Rodrigues. Segundo o oceanógrafo, o turista, antes de realizar o passeio, deve consultar os parceiros do IBJ em cada Estado. “O instituto normalmente realiza palestras antes dos embarques, verifica as condições das embarcações e dispõe de um membro ou estagiário para acompanhar o trajeto”, conta. Cada embarcação pode levar de 20 a 100 pessoas, dependendo de seu tamanho e condições.

Em várias localidades, como Caravelas, Praia do Forte e Itacaré (BA), Arraial do Cabo (RJ), Vitória (ES) e Ilhabela (SP), os passeios são combinados com visitas a esses espaços mantidos pelo Instituto Projeto Baleia Jubarte, para levar informações sobre pesquisa, conservação e importância de preservar os mamíferos, essenciais para o equilíbrio da vida nos oceanos e no combate ao aquecimento global. O último espaço foi inaugurado em junho do ano passado, em São Sebastião, em Ilhabela, onde a observação de baleias é atividade recente. As agências que operam passeios de barco na cidade paulista já estão com agendamento aberto, e a procura está em alta. Há empresas, inclusive, que cresceram em 30% suas reservas em relação a 2023.

A Maremar Turismo, operadora que atua na região há mais de 30 anos, só criou a experiência em 2021. “Quando começamos a fazer os passeios, os barcos não davam conta de atender o número de pessoas interessadas. Em 2022, dobrou o número de pessoas que buscaram os passeios, e no ano passado batemos recordes: fizemos duas saídas por dia, com quatro barcos, levando uma média de 250 pessoas, durante 76 dias. Em todos os dias avistamos baleias”, conta Marcos Cará. Ele conta que o faturamento da empresa triplicou nos últimos três anos com a atividade. “O inverno se tornou a nossa segunda temporada de turismo”, conta. No embalo do movimento das baleias, cresce consequentemente a procura por hospedagem, alimentação e outras opções de lazer. Na busca pelo turismo sustentável, em 2023 São Sebastião foi vencedor da 11ª edição do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade, da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), com a iniciativa “Avistamento de Baleias”.

Cauda da baleia é como digital; turista pode ajudar na identificação dos animais enviando foto para Projeto Baleia à Vista

E por que elas estão chegando tão cedo?

A temporada de baleias jubarte normalmente vai de maio a setembro. Mas, a cada ano, elas estão chegando mais cedo. Para entender seu comportamento, o turismo de observação de baleias tem sido um aliado da ciência. Já existem ferramentas de fotoidentificação – a parte inferior da cauda é a digital da jubarte. Os turistas e os moradores locais podem ajudar na identificação dos animais enviando fotos da cauda para projetos como o Baleia à Vista, parceiro do Instituto Baleia Jubarte, que encaminha para a plataforma internacional Happy Whale. A organização já conta com mais de 100 mil baleias catalogadas ao redor do mundo, com informações de onde passam e suas possíveis rotas.

Na semana passada, uma parceria também foi celebrada entre a Secretaria de Turismo de Porto Seguro e o Projeto Baleia Jubarte, visando não apenas à preservação das espécies, mas também ao estímulo ao turismo sustentável por meio da observação de baleias, iniciado pela Cia. do Mar Navegação e Turismo, parceira do projeto há mais de uma década. Entre as iniciativas está a criação da Ilha Educacional Interpretativa, dedicada à disseminação de informações sobre as baleias e a possibilidade de desenvolver réplicas de caudas de jubarte em tamanho natural como ferramentas educacionais e atrações turísticas. Os próximos passos incluirão a revitalização e tematização da praça próxima ao embarque das balsas e pontos de observação na cidade histórica.

Os turistas devem ficar a uma distância de 100 m do animal

A observação de baleias (ou “whale watching”) acontece em mais de cem países, gerando receita anual de quase US$ 2,5 bilhões. No Brasil, a atividade atrai cerca de 10 mil turistas por ano e movimenta cerca de R$ 3 milhões na economia, segundo dados do Ministério do Turismo.   

Na temporada de avistamento, os turistas devem contratar embarcações cadastradas e com tripulação treinada. O preço dos passeios varia de empresa para empresa e custa, em média, entre R$ 300 e R$ 350 por pessoa. regras definidas por uma portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama): no máximo de duas embarcações por grupo de baleias, limite de aproximação de 100 m dos animais, sem a produção de ruídos excessivos ou o despejo de detritos na água, motor neutro e permanência por, no máximo, meia hora. É também proibido nadar ou mergulhar sem equipamentos e à distância inferior a 5 m do animal.

As jubartes podem medir até 16 m de comprimento e pesar até 40 toneladas. Elas estão presentes em todos os oceanos, e sua expectativa de vida é de 60 anos. A gestação de uma baleia dura de 11 a 12 meses. Tem coloração negra, nadadeira dorsal pequena, grandes nadadeiras peitorais, que podem chegar a ter um terço do comprimento do corpo, e a típica cauda que possibilita a identificação de cada indivíduo. São animais dóceis e brincalhões e soltam um borrifo na água, se exibindo com abanos da cauda para fora d’água ou em saltos.

A baleia jubarte costuma soltar um borrifo na água, se exibindo com abanos da cauda para fora d’água...

No Espírito Santo, a temporada começa em julho. “Em Ilhabela, as baleias chegam mais cedo do que aqui e vão até Abrolho até junho”, explica o oceanógrafo Paulo Rodrigues, coordenador do IBJ-ES. Os locais mais próximos para os mineiros avistarem os animais são Vitória (ES) e no Rio de Janeiro (RJ). No Rio, os trabalhos de pesquisas iniciaram-se em 2022. “Ele se concentra em entender o corredor migratório. As baleias saem da Antártida para o Norte do Espírito Santo e Sul da Bahia para se reproduzirem e passam pelo Rio, que não costuma ter muitas baleias”, conta biólogo Guilherme Maricato, coordenador do IBJ-RJ. Preliminarmente, o instituto está capacitando as operadoras para poder oferecer os passeios. Em Niterói, os passeios começam em 15 de junho, em uma parceria entre a prefeitura local, por meio da Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur), e o projeto Amigos da Jubarte, do Instituto O Canal.  Além de baleias e golfinhos, os turistas poderão ter contato com tartarugas marinhas, peixes e aves, entre outras espécies. Os interessados em realizar o passeio devem fazer o agendamento pelo site Quero ver Baleia

Serviço

Mais detalhes sobre os parceiros cadastrados que realizam os passeios ou informações sobre o Instituto Baleia Jubarte: acesse Projeto Baleia Jubarte ou o Instagram / @projetobaleiaavista / @projetobaleiajubarte

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