CINEMA

Ano da instituição do AI-5, 1968 é abordado em documentário de Eduardo Escorel

Filme segue a narrativa cronológica do diário de Silvia, irmã do cineasta

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 03 de junho de 2024 | 17:14
 
 
 

O documentário "1968 - Um Ano na Vida" é bem diferente da tetralogia histórica que o diretor Eduardo Escorel realizou sobre os conflitos políticos ocorridos na primeira metade do século passado, durante a Primeira República e o Estado Novo.

Na tetralogia, há um rigor tanto no levantamento de informações históricas quanto na montagem - primeiro ofício que Escorel se forjou, assinando trabalhos como "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Macunaíma" - que não se vê em "1968", disponível na plataforma CurtaOn - Clube ds Documentários.

Na produção mais recente, apesar de ser um tema tão crucial em nossa História quanto os episódios abordados anteriormente, com o recrudescimento da ditadura militar com a instituição do AI-5, Escorel assume certa informalidade, a partir da fonte histórica principal: o diário da irmã Silvia.

É ela quem narra o documentário, trazendo uma maior familiaridade à produção. Podemos até especular uma razão para isso, já que o cineasta viveu essa época plenamente, participando direta e indiretamente dos movimentos contra a repressão.

O aspecto que mais chama a atenção é como a grande História acaba sendo sobreposta à história íntima, em que se destaca as decisões de uma jovem mulher, recém-separada, explicitamente atordoada por sentimentos confusos.

Em algumas partes, Silvia pressupõe, por seus desenhos e transcrição ds trechos do I-Ching, os seus sentimentos de momento em relação aos acontecimentos, próprios e do país. Nada é muito certo, como as frases em inglês recortadas dos jornais, que podem significar várias coisas.

A História, enfim, é relativizada. Incluindo aí o peso a que se atribui a 1968, como sinônimo de perda de nossas liberdades por conta de um ato institucional tirano. Dele pouco se fala, na verdade. Não por querer dar um ponto de vista indulgente, mas sim por não permitir que um ano fosse completamente apagado de humanismo e beleza.

Esse é o percurso seguido por Escorel: belo, único, feminino, sentimental, honesto e divertido.

O AI-5 foi decretado em 13 de dezembro daquele ano. O filme segue a narrativa cronológica do diário de Silvia, visitando outros lugares e fatos, pessoais e públicos, antes de se chegar ao famigerado ato, que acaba ocupando um pedaço bem pequeno de tempo do documentário.

"1968 - Um Ano na Vida" fecha com a missão espacial da Apollo 8, que deu várias voltas na Lua. No Natal, o astronauta Jim Lovell fez uma brincadeira, chamado a NASA para dizer que Papai Noel existe. Um chiste bem apropriado à maneira como Escorel vira a folhinha de seu calendário fílmico. "Só rindo mesmo!", finaliza Silvia.

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