Minas S/A

Ânima Educação abrirá escola Le Cordon Bleu em Belo Horizonte

A temporada Minas S/A Inovação tem hoje o sétimo episódio, com Rafael Ciccarini, diretor nacional de operações da Ânima Educação, e vai até maio nas plataformas de O TEMPO. A Ânima Educação é uma das maiores organizações educacionais privadas de ensino superior no país com mais de 400 mil estudantes, 18 instituições de ensino, 18 mil educadores (entre docentes e colaboradores e colaboradoras). A Ânima trouxe o primeiro instituto no Brasil da escola francesa de artes culinárias Le Cordon Bleu com unidade em São Paulo e agora o grupo vai abrir uma unidade também em Belo Horizonte em 2024.

Por Helenice Laguardia
Publicado em 27 de abril de 2024 | 03:00
 
 
 
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A temporada Minas S/A Inovação tem hoje o sétimo episódio, com Rafael Ciccarini, diretor nacional de operações da Ânima Educação, e vai até maio nas plataformas de O TEMPO.

A Ânima Educação é uma das maiores organizações educacionais privadas de ensino superior no país com mais de 400 mil estudantes, 18 instituições de ensino, 18 mil educadores (entre docentes e colaboradores e colaboradoras).

Há 20 anos no mercado, o início da Ânima se deu em 2003, com a aquisição da Minas Gerais Educação, mantenedora do Centro Universitário Una.

A Ânima trouxe o primeiro instituto no Brasil da escola francesa de artes culinárias Le Cordon Bleu com unidade em São Paulo e agora o grupo vai abrir uma unidade também em Belo Horizonte em 2024.

A seguir, a íntegra da entrevista de Rafael Ciccarini.

HL: Rafael, já te conheço há algum tempo, você é mineiro, é muito legal estar à frente de uma área tão importante para uma empresa do tamanho da Ânima, conta um pouquinho para gente da sua trajetória. 

RC: É um prazer estar por aqui. Eu sou filho da Lúcia, que também é administradora, e do Tadeu, que sempre foi comerciante, e sobretudo pai do Antônio, meu querido Antônio, de 8 anos, atleticano como eu. Eu tenho uma trajetória curiosa, a princípio eu tenho formação na área de humanas, eu sou historiador. Tenho uma trajetória grande anterior nas artes, em cinema, onde fiz mestrado e doutorado, fui professor, sou professor aliás. Isso costura toda essa história. E sou professor desde muito novo, filho de professor também, minha mãe é professora da PUC - Pontifícia Universidade Católica. Eu encontro a Ânima Educação através da UNA - Centro Universitário Una, onde eu entro em 2009, e de lá para cá veio essa trajetória toda acontecendo, não planejadamente, como as coisas mais legais e mais interessantes acontecem na vida. Acho que a experiência pública eu tive um pouco no Palácio das Artes, tive alguma experiência no setor público que nos dá algum calejo, a gente vai aprendendo um pouco sobre pessoas, sobre instituições e como fazer a coisa acontecer a despeito das dificuldades. 

HL: E ter essa visão de todos os lados, né, Rafael? Que às vezes é difícil para a pessoa que não tem esse tipo de experiência. 

RC: Hoje facilita muito. De fato, você ter uma vivência na academia, numa formação de stricto sensu mais rigorosa, né, por outro lado você vivenciar a gestão no setor público, onde fazer a coisa acontecer é difícil, complexo, e aí depois ter o privilégio, que é isso que a gente está falando aqui hoje, de acompanhar um pouco um time tão rico. Você vai ver, nós vamos falar disso, eu estou falando da minha trajetória, mas a Ânima é uma companhia, e ela reúne um conjunto de escolas, e depois foi se tornando maior ainda, de muita inteligência coletiva, de talento, sabe? Isso tem muito a ver com o talento das pessoas, dos professores, dos administradores, de muita gente com visão, e o que a gente tem é essa capacidade de alguma maneira estar com as pessoas certas. E existe uma missão também, essa coisa do propósito que hoje é muito… às vezes é legal, mas em muitas vezes ela é mais um desejo do que alguma coisa efetiva. Na Ânima, o propósito de transformar o país por meio da educação, é um propósito muito vivo e que sempre guia as nossas decisões. Então isso fica muito claro, desde lá de 2009 quando o professor vai se apaixonando ali pela… eu comecei na Una, aliás a Ânima começou na Una.  

HL: É, ela comprou a Minas Gerais Educação que é mantenedora da Una, não é? Que tem o Uni-BH, que está fazendo 60 anos agora. Essa coisa de sair da sala de aula, quer dizer, professor nunca deixa de ser professor, mas virar gestor também é uma trajetória aí que é longa, não é?   

RC: É. A Una foi em 2003, eu entrei em 2009, a Ânima depois adquire em Santos/SP a Unimonte e depois o Uni-BH aqui (Belo Horizonte/MG). E é interessante essa característica, ela é uma empresa nacional, mas ela traz essa mistura de Minas com São Paulo, sabe? Essa coisa meio café com leite que a política e a história do Brasil têm muito. Claro, no bom sentido, porque de fato é uma união muito interessante entre dois estados muito centrais para a formação da economia brasileira, do PIB brasileiro, e a Ânima vem crescendo e adquirindo outros sotaques, e essa parte é interessante, como que a gente indo para o Sul,  a gente indo para o Rio, a gente indo para o Nordeste, a Ânima vai se tornando, a partir desse DNA tão rico já, uma empresa mais nacional, mais plural, e entendendo melhor o Brasil e podendo de fato colaborar melhor com o Brasil também. 

HL: 20 anos no mercado, 18 unidades, mais de 400 mil estudantes, presença em 18 estados, como é o grupo agora, formado atualmente, qual é o interesse? É estar em todos os estados? 

RC: Olha, essa é uma das perguntas talvez mais interessantes da gente explorar. Falar de como a Ânima surge tem a ver com falar do presente da Ânima, porque não muda muito na essência. A gente tem números muito interessantes hoje, tanto nas marcas quanto no que a gente chama de verticais, que são outras empresas que se articulam em torno de um ecossistema para tentar lidar com os dilemas da educação contemporânea, que é muito diferente daquela que a gente teve. Então a gente precisa se articular muito pensando no contemporâneo, em como se está investindo na aprendizagem hoje, e a gente vai falar disso. Mas o que é legal dos números, da gente estar com tantas marcas, em tantos estados e com tantos alunos, são todas elas marcas muito importantes, com históricos muito sólidos. A Ânima não trabalha a quantidade per se, digamos assim, apenas os grandes números e os volumes, a transformação se dá pela relação entre escala e qualidade. Se você for notar, você tem alguns exemplos muito conhecidos de ilhas de excelência no Ensino Superior. Vou citar alguns mais conhecidos aqui, Harvard, ou o Insper, nos negócios em São Paulo, mas você vai notar que são sempre experiências em escalas reduzidas. Então a gente entende que para transformar de fato a educação e transformar o país, a gente precisa ter escala. 

HL: Não dá para ser só uma boutique, não é? 

RC: Isso, não dá para ser uma boutique. Ao mesmo tempo, você tem também muita gente no Brasil e no mundo que tem escala também, que tem uma grande escala. Mas às vezes existe uma dificuldade dessa conciliação, e aqui que é o cerne da questão, né? Como você conseguir fazer um projeto que tenha a qualidade no cerne, que tenha inovação, que é o nosso grande tema aqui, constante, no dia a dia, entranhada, que tente se renovar, mas ancorada em bases muito sólidas e históricas. As nossas marcas, a gente sempre opta, e muitas vezes somos escolhidos por famílias que querem que sua marca seja perenizada, mas que entendem que precisam de uma gestão profissional, uma gestão que tenha mais condições de endereçar os dilemas do contemporâneo, então é a escala, mas é a relação da escala com a qualidade.  

HL: Porque senão acontece também evasão escolar, a pessoa entra e sai, vê que não tem aquele propósito que ela estava buscando, e é um grande desafio, né, Rafael, inserir essa inovação, o digital, o que as pessoas querem atualmente estudar e evoluir na inovação. O que vocês estão fazendo? Vocês adquiriram a HSM, tem uma parceria com universidades no mundo inteiro, não é? 

RC: A gente estudou num regime escolar, não só no Ensino Superior, mas também no Ensino Fundamental e Médio, muito disciplinar. Se você for olhar a palavra disciplina, ou grade curricular, você remete a prisão, é até interessante o linguajar. E isso teve uma razão histórica, isso foi uma educação que endereçou e serviu ao modelo da evolução industrial, que é uma produção por série, o fordismo, as coisas organizadas, os conteúdos organizados, pré-requisitos… Se você for olhar tem uma serialização, nossa educação é toda muito seriada, e o mundo hoje é muito diferente disso, não é? Não é à toa, a gente pode falar aqui bastante, adentrar sobre currículo, não é tanto a nossa ideia, mas se você for olhar, se você perguntar para um empresário hoje, todos eles vão ser unânimes, a gente está endereçando, e a gente fala isso há muito tempo, que isso foi se distanciando. O mundo da produção, o mundo do dia a dia das empresas, a formação da dinâmica da economia, das relações da cidade, das próprias lógicas da cidade foi se distanciando da universidade, também dos… existem desafios nos Ensino Fundamental e principalmente no Médio, e o Brasil precisa também endereçar a questão do técnico, então nós estamos falando de um quebra-cabeça mais complexo.  

HL: Não pode ficar aquela coisa tão segmentada, né? O mundo acadêmico lá num pedestal e o mercado de trabalho aqui do outro lado. Tem que ter um equilíbrio. E o que eu tenho ouvido muito de empresários e de CEO’s é a dificuldade de reter talentos, que esse pessoal, os millennials, né, eles querem com 6 meses já virar gerente e em 1 ano virar diretor. E a gente sabe que não é bem assim, não é, Rafael? Há quantos anos você está no mercado? 

RC: São os desafios do hoje. De fato, se a gente for pegar especificamente essa característica geracional, nós somos e viemos de uma geração onde o workaholic, que trabalhar muito, e às vezes não trabalhar muito como ética do trabalho, que permanece sendo uma coisa importante, mas existia uma… talvez tenha havido um certo exagero em certo momento e aí, eu acho que como uma reação, como alguém que sempre vê um processo de uma forma mais ampla, eu tendo a achar que nós estamos num período de conformação. A partir desse momento em que um paradigma de trabalho, em que você trabalhava 16 horas, a gente chega nesse momento em que você tem um discurso às vezes por esse lado excessivamente romântico, talvez. Então se nós chegamos aqui humildemente, cada um de nós onde estamos na nossa carreira, na nossa trajetória, isso vem de um inconformismo, de uma leitura constante, das mudanças que são diárias. Na medida em que você achar assim “estou pronto”, de alguma maneira alguma coisa você já não entendeu (risos) perdeu alguma coisa. 

HL: E você está conseguindo, a Ânima Educação está conseguindo fazer esse trabalho desde a origem da sala de aula para ele (aluno) chegar no mercado de trabalho com essa consciência? 

RC: A gente se preocupa muito com isso. O nosso currículo endereça isso na medida em que trabalha competências. Há um tempo falava-se em soft skills, que são os comportamentos interpessoais, a geração precisa aprender a conversar, a fazer uma reunião.   

HL: Não é só o hard skills, né? 

RC: Isso. Até hoje tem uma inversão, fala-se assim que o hard hoje em dia é o soft, é difícil o soft skills. Se você for olhar nós não estamos falando de uma coisa soft, dá uma impressão que é alguma coisa simples ou natural, mas isso é trabalhado. A gente tem no nosso percurso curricular diversas maneiras de tentar levar ao mercado de trabalho uma pessoa que… é muito comum os empresários dizerem assim “a gente contrata por hard skills e demite por soft skills”. A pessoa sabe alguma coisa do hard, daquilo que ela supostamente tem que saber para desempenhar uma profissão, mas ela não consegue, aí tem duas dimensões, o relacionamento pessoal, o lidar com o outro, o trabalhar em equipe, mas também isso na medida em que todo mundo está se reinventando. Então as relações, por exemplo, de liderança, elas se alteram, porque imagina, se você está numa organização, você também precisa se reinventar o tempo todo, você está angustiado, está com medo de ficar para trás. Se você recebe um aluno que também está formado no paradigma antigo, ficam os dois… e aí existe esse gap, porque olha só, nós estamos formando uma quantidade de alunos gigante, nós não só a Ânima, nós Brasil, e aí muitas vezes o empresário diz assim “eu tenho as posições, mas eu não tenho as pessoas para as posições”. 

HL: Há muito essa reclamação. 

RC: É. Se você tem a gente formando o nosso aluno e ele com dificuldade de se colocar (no mercado de trabalho), você tem o empresário com dificuldade de achar pessoas. Então tem um problema muito grave aí. E aí a gente tem algumas maneiras de tentar endereçar isso. Uma delas, só para citar um exemplo… a gente poderia fazer um outro programa, na série que for sobre educação a gente pode aprofundar (risos), mas é o que a gente chama de unidade curricular, já não estamos mais trabalhando com disciplina. O que é unidade curricular? É uma organização daquele momento da formação onde o aluno trabalha a competência A, B ou C. E por que é interessante isso? Porque a gente não está trabalhando sozinho, a gente está chamando empresas, então eu chamo o Jornal O Tempo, eu chamo veículos, chamo a Amazon, a Google, para fazer junto com a gente quais competências vamos trabalhar aqui. 

HL: Faz uma imersão aí, vamos ver. 

RC: Isso. E aí não espera o aluno formar para fazer o trainee na companhia, olha que loucura. E mais do que isso, as empresas estão fazendo agora universidade corporativas, porque ela não quer mais esperar o aluno ser formado e está fazendo a sua própria universidade. Então o que a gente está tentando é entender um pouco disso e misturar no melhor sentido esses universos. Então assim, vamos trazer a empresa para fazer a unidade curricular conosco? E aí a gente tem uma unidade curricular dual, ou seja, o aluno, na sala, ele já tem a empresa na sala e vai fazer essa formação na empresa, tem a micro certificação, olha que interessante. Você trabalha com a empresa, desenvolve aquela competência, a empresa te certifica. Então antes de se formar ele já tem algumas micro certificações. Essas micro certificações vão muitas vezes endereçar problemas da própria empresa, então o aluno fica.  

HL: Já mantém ele lá. 

RC: E aí você consegue na prática, você tem uma engenharia curricular que tenta fazer essa ponte desde já na formação e não esperando para depois fazer o tal trainee. 

HL: Não fica aquele êxodo, né? A pessoa pulando de empresa em empresa. 

RC: Sai de um curso para o outro, porque não sabe qual é a sua vocação, isso também não está mais assim. Ninguém, nem a gente de 40, 50 ou 30, as pessoas não se definem a partir de uma coisa.  

HL: Não, hoje são várias ferramentas. 

RC: Com 18 anos você vai definir o que você vai ser para o resto da vida. Se você pensar bem isso não faz muito sentido, nunca fez. O que está acontecendo agora é isso se tornar cada vez mais sem sentido. É claro, a gente tem a regulação, a gente tem os cursos, a gente tem as graduações, isso continua fazendo sentido para algumas, em outras áreas a gente está vendo outras maneiras de formar, em outras não necessariamente um diploma… e quando a gente está falando de uma instituição de Ensino Superior, a gente não fala isso com muito receio não, há áreas em que o diploma vai ser mais necessário, há outras que nem tanto, e há outras que é muito mais importante o percursos formativo, e daí as verticais, aí que é legal falar um pouco disso. 

HL: A Ânima Educação está em 18 estados, é muita coisa e eu queria falar um pouco sobre isso também, sabe, Rafael. Essas peculiaridades do país e as novas frentes da economia, o que elas estão interferindo na tomada de posição da Ânima Educação? Quer dizer, vocês têm várias atuações, por exemplo chegaram agora no Pará, estou vendo várias empresas indo para lá, na área de saúde, na área de educação, por conta da economia, a gente tem a mineração muito forte lá, e isso vai gerando um comércio, vai gerando uma indústria, uma cadeia de fornecedores, e nisso também a educação precisa estar no mesmo nível para formar aquela mão de obra, não é? Além de outras frentes que a gente conversa aqui no setor agropecuário, no Sul do país com a área de Tecnologia, como tem sido fazer esse raio-X do país? 

RC: Essa dinâmica é muito interessante e tem a ver mesmo com as áreas da economia e como a lógica, a geografia da economia brasileira, uma certa cartografia da economia brasileira, vai se organizando. Você falou do agronegócio, por exemplo, a gente tem o que a gente chama de verticais do conhecimento. Aí essas verticais tentam dialogar e organizam, se embrenham, junto ao setor produtivo e constituem maneiras de fazer com que os próprios currículos fiquem vivos e interligados com essas áreas. Então a nossa vertical da área da saúde é a Inspirali, por exemplo, nós chegamos ao Pará pela medicina, a gente tem uma atuação forte na medicina. A medicina brasileira também precisa de avanços importantes, a Inspirali consegue se articular com a rede hospitalar, com o Sistema Único de Saúde, pensar a formação médica para depois que o aluno estuda também, porque o médico precisa cada vez mais estar premente, se necessário de uma formação contínua, que a gente chama de aprendizado ao longo da vida. Então essa maneira de se organizar pelas verticais, temos a vertical do direito que é a Ebradi, onde a gente traz os grandes nomes do Direito através da tecnologia, irrigando as graduações do Direito, mas também se parceirizando com os tribunais, com a realidade do dia a dia e com os dilemas da profissão.  E para falar do agro… 

HL: O agro parece que assim entrou na moda mesmo, está segurando o país na pauta de exportações, no PIB, está “salvando a lavoura”.  

RC: Literalmente, né (risos) 

HL: Está “salvando a lavoura” também na educação (risos) 

RC: Eu acho que, assim, aqui tem uma oportunidade muito interessante. O agro de fato, tem esse momento do agro é pop, a gente tinha uma certa demonização, um certo desconhecimento, uma certa separação do mundo urbano, o que é estranho, porque esse mundo urbano é todo alimentado, literalmente, e viabilizado pelo agro. 

HL: O leite não vem da caixinha, o leite vem lá da teta da vaca, o tomate vem da terra, né? (risos) A carne vem do boi.  

RC: O que a gente está observando, ao mesmo tempo em que vai se ampliando o conhecimento sobre esse universo, sua importância econômica, sua interligação com tudo, vai também diminuindo essa fronteira do que é urbano. E há também uma série de disputas narrativas, há muito mito. Um dos papéis da educação é contribuir para uma discussão mais sofisticada sobre o agro, ao mesmo tempo o agro brasileiro é paradigmático no mundo, o mundo inteiro procura o Brasil para entender um pouco o que a gente faz aqui, uma série de áreas. 

HL: É referência o Brasil? O pessoal fica vilanizando o agro aí, mas não é mais assim, não é? Nas escolas tem muito de tecnologia, mesmo que a gente “ah, é exportador de commodities”. Mas na commodity tem muita tecnologia embarcada também, gente. Vocês estão lá ensinando na Ânima Educação e são várias matérias? 

RC: A gente tem Goiás, por exemplo, onde a gente vê unidades se relacionando com a cidade e é muito interessante os cursos dessa área muito procurados, mas não só isso. Olha que interessante, se você for olhar, o agro brasileiro é isso tudo, mas ele também tem problemas de formação relevantes, e ele pode ser mais ainda. O que a gente entende é que não se trata apenas da gente entender isso como oportunidade de mercado, e fazer uma venda setorizada dos cursos desta área nos estados onde existe essa característica de produção, é mais do que isso. É assim, como que a Ânima, sendo o ecossistema por si só, pensa também em como endereçar certas questões, por exemplo… 

HL: É, dá um exemplo assim do agro. O que o pessoal tem procurado mais, o que o pessoal tem pedido mais? 

RC: O agro, digamos o agro de grande porte, ele tem acesso a tecnologia e já trabalha com alta tecnologia e inovação, mas você tem, por exemplo, o produtor médio, ele tem dificuldades. Mesmo o grande produtor, existe um gap de mão de obra técnica, por exemplo. Outro dia eu estava em Goiás e eu ouvi um exemplo. A empresa adquire grandes tratores, moderníssimos, mas o trator vem em inglês, e o operador do trator não sabe fazer aquela leitura, a compreensão de como operar o maquinário. Então ainda se tem um lugar intermediário de formação, você tem executivos muito bem-preparados, ao mesmo tempo… vou te dar outro exemplo. Há uma série de mapeamentos de gaps, digamos intermediários, entre aquele cara que não vai ser o cara que colhe a cana, muitas vezes, mas vai ser o cara que opera as máquinas, que organiza a produção, faz a gestão da fazenda. Aí você tem oportunidade do curso de gestão. 

HL: E é tudo robô, né? Você tem que saber apertar os botões ali das máquinas. Você tem o drone, né, que a pessoa tem que saber operar?  

RC: Você tem tecnologia, tem os cursos de T.I. E você tem problema de sucessão familiar. Você está vendo gerações onde… 

HL: Não querem ficar na roça. 

RC: Se não querem, por quê? E se querem, onde estudar? Alguns querem, outros não querem, portanto você precisa de um advogado bem formado para auxiliar essas famílias, então você está falando de Direito. Você tem que ter acesso ao novo capital, portanto às fintechs e a esse universo. Você entende? 

HL: O médico que a operação não vai ser mais ele que vai cortar, é o robô, então ele tem que saber operar, ou seja, é uma indústria 4.0. 

RC: Ou seja, você não está só falando de agronomia e de veterinária. Você está falando de smart farming, então se você fala de smart city, você fala de smart farming. Aí você tem toda uma discussão de ESG e de sustentabilidade que não é mais só uma coisa. Ou você faz um problema para a natureza, ou você tem alguma coisa romântica. Não, hoje a produção está ligada e cada vez mais estará ligada a ideia e sustentabilidade, porque é a perenização do próprio negócio. 

HL: E é a perenização da própria Ânima Educação, não é? Porque senão ela começa a também não preencher isso, né? 

RC: A dinâmica da economia muda, a maneira dela se organizar muda, e, portanto, a necessidade de formação muda e as oportunidades de negócios mudam. E essas coisas são dinâmicas, quem fizer a leitura mais aprofundada… e aí não adianta a gente também fazer apenas um movimento de marketing no melhor sentido, que às vezes você está vendo por eles, as pessoas percebendo que o agro é um setor muito capitalizado, e aí tentando explorar de maneira superficial. O que a gente está tentando aqui, e aí com toda humildade, ninguém conseguiu ainda montar esse quebra-cabeça todo, mas nós estamos tentando nos organizar com as pessoas que pensam o agro de maneira mais sofisticada, com a alta pesquisa que existe no agro do Brasil, extremamente sofisticada, com a nossa capilaridade, se organizar aí para ajudar o Brasil, para a Ânima poder crescer também, e a gente construir um ciclo virtuoso. Mas isso passa por uma compreensão dinâmica, inteligente, coletiva.   

HL: Tem que ter muito trabalho aí e muita integração, muita sinergia, que eu reparo, né? Para os setores conversarem entre eles. 

RC: Acho que a gente está passando da fase em que a educação antes de ser um setor da economia tinha uma vilanização também. 

HL: Tinha demais, né, Rafael? Você lembra como era? “A gente aqui, eles lá”? “Não dá para conversar com esse pessoal”. Acabou isso, não é? 

RC: Agora está se percebendo que, por exemplo, quando você vai se sentar com algum setor e vai escutar os problemas dele, e a gente consegue construir algumas coisas juntos e caminhar, falar da formação por competência, avançar na construção dessas verticais do conhecimento, vai existir uma relação de confiança mútua e de percepção, porque essa separação do setor produtivo com a educação, ela não é só do que você aprende e do que você vai usar lá, ela também tem um desconhecimento de lado a lado e tem uma relação... Então quando o empresário vê que a gente é rápido, vou dar um exemplo simples, que é a gente faz uma parceria em que a gente fala que vai acontecer alguma coisa e aquilo anda, aquilo não tem uma velocidade lenta… a velocidade da economia do setor produtivo é muito alta, então como nós somos também um setor, a gente consegue dialogar na mesma linguagem, numa linguagem parecida, não é exatamente a mesma, mas a gente consegue. Não é aquela coisa “o acadêmico com o seu mundo e com sua velocidade, com o empresário com o seu mundo”. Gente, nós estamos num mundo só. 

HL: Vocês estão virando a chave rapidamente, não é? 

RC: E não é só educação. A gente está falando aqui de agro, de saúde, de educação e de setor produtivo. E mais ou menos o assunto não mudou muito não, você entende? É disso que a gente está falando, enquanto a gente ainda tiver cada em seu quadrado, como diria antigamente, mas cada um achando que é detentor daquele saber fazer, aí você vai ficar sozinho, isolado em algum momento, porque as pessoas vão se juntar em torno de redes, ecossistemas cada vez mais ágeis, cada vez mais múltiplos. E aí que é legal falar de crescimento, não é uma coisa de dominância em relação ao outro, é uma coisa de construir juntos, tentando pensar e construir os próximos passos.  

HL: A Ânima Educação desse tamanho, presença em 18 estados. Eu estava acompanhando a divulgação dos resultados financeiros dela, em 2023 terminou com um caixa de R$711 milhões, um resultado financeiro global de R$3 bilhões e 250 milhões. O que fazer agora, quais são as novas frentes de atuação? É chegar em todos os estados brasileiros? É aprimorar ainda mais onde já está? É abrir novas frentes de trabalho? O que vocês vão fazer com esse dinheiro? 

RC: A atuação tem que ser múltipla. Vou seguir aqui, a gente vai chegar na parte do resultado que foi muito legal, mas para falar de uma outra área e de como isso se articulou com as necessidades e com a dinâmica da economia, vou falar da Le Cordon Bleu. 

HL: É também, que a gente tem para falar aqui muita coisa! (risos) 

RC: É porque eu lembrei e aí eu vou chegar na sua resposta de como é que a gente vai endereçar o crescimento. Não estou “a la mineira” desviando do assunto, não. Quando você fala, por exemplo, a gente tem, a Ânima tem 50/50… a Le Cordon Bleu é a maior escola de gastronomia do mundo, a mais prestigiosa. 

HL: Ela é referência mundial. Todo mundo quer estudar lá. 

RC: E a gente tem o privilégio de estar trazendo para Belo Horizonte/MG a graduação com a Le Cordon Bleu. 

HL: Já tem em São Paulo/SP e agora está trazendo para Belo Horizonte/MG. Quando que chega aqui em Belo Horizonte/MG?  

RC: Chega no segundo semestre agora de 2024. Já tem o curso de graduação com a Le Cordon Bleu e a gente já está aprofundando as relações, aí de novo, olha como exemplo é prático. 

HL: Para você ver como tem demanda, não é? 

RC: Vamos lá. Tem o profissional da gastronomia, tem o gestor da gastronomia, tem o gestor da cadeia hoteleira e tem problemas também. Olha, ao mesmo tempo que a gente pode falar que… você está vendo o que está acontecendo com o queijo de Minas Gerais agora.  

HL: É, repercussão mundial, ganha prêmios na França, né, que é o berço… (risos) 

RC: Que é o berço da própria Le Cordon Bleu. Mas olha que interessante, a gente tem esse potencial todo de posicionamento do Estado pela gastronomia e nossa história, né, o mineiro eu nem preciso dizer para você e para o pessoal que está escutando a gente, mas ao mesmo tempo você tem formação de serviço. Você vai para o interior de Minas, mesmo as cidades turísticas, você vê que existe um problema de formação do pessoal que presta serviço na hotelaria, falta hotel. 

HL: Você está me lembrando aqui o Nadim Donato, que é o presidente da Fecomércio/MG, ele fez aí vários cursos profissionalizantes no Senac gratuitos com vários outros cursos profissionalizantes por conta dessa demanda que tem na área de restaurantes e hotéis, quer dizer, vocês têm que trabalhar juntos, não é? 

RC: Perfeito. Eu conversei com Nadim já sobre isso, nós somos parceiros. 

HL: Ah, que coisa boa isso! 

RC: Nós somos parceiros. A universidade, a educação, ela tem que se parceirizar com os outros setores e com o Governo para tentar endereçar esses dilemas e fazer a coisa andar. E aí a Le Cordon Bleu, como que aparece, não é só um negócio que vem competir no setor da gastronomia, é também, mas a Le Cordon Bleu era especializada em serviços e gestão nesta área e hospitalidade. Uma das especialidades mundiais da Le Cordon Bleu é a hospitalidade. Um dos nossos gaps é esse, então porque nós não vamos nos sentar com o Nadim? Já fizemos, estamos sentando-nos com o Governo Estadual, com o Governo Municipal, para a gente fazer um programa, a partir da chegada da Le Cordon Bleu, fazer um programa aqui na cidade de Belo Horizonte/MG e no interior de Minas para a gente endereçar isso.  

HL: Para agregar valor.  

RC: Isso! Já agregando valor na cadeia e vai construindo um ganha/ganha, e aí você tem de fato a graduação como uma âncora, mas não é um fim em si mesmo, ela é toda embrenhada em problemas e questões e dilemas reais. E aí que eu volto na sua pergunta sobre o nosso crescimento, é por aí, sabe? Ela tem a ver, a gente pode adquirir, estamos sempre olhando oportunidades de mercado, sempre pode haver novas aquisições, mas ao mesmo tempo não há uma preocupação expansionista per si, apenas numérica, tem que fazer sentido. Tem que fazer sentido para onde a gente está chegando, tem que fazer sentido macro para essa articulação dos setores.  

HL: É igual fez sentido da Le Cordon Bleu, né? Vem mais escolas por aí? Tem uma expansão maior? Vocês estão esperando quantos alunos já aqui em Belo Horizonte/MG, já tem essa procura grande? 

RC: É da natureza da Ânima seguir olhando oportunidades em diversas áreas. A Le Cordon Bleu tem um plano de expansão sim, a gente, até pelo nosso DNA, como a gente estava falando no início, a gente estava em São Paulo, a escola de São Paulo é uma das referências no mundo, igual a que tem em São Paulo só tem 3 no mundo da Le Cordon Bleu, e agora nós vamos expandir a partir dessa formação conjunta com a graduação. Isso acontece em Belo Horizonte agora, ainda nesse ano. A gente estava agora no Sul, a gente vai abrir as unidades de Curitiba/PR e de Porto Alegre/RS, e também essa graduação no Rio de Janeiro/RJ. Então a expectativa é grande, não só por isso que a gente está falando, que é formar os profissionais diretamente relacionados à gastronomia com uma marca referência, mas com o potencial que isso tem de endereçar, ajudar toda uma cadeia nos seus principais dilemas. 

HL: Ou seja, refinar mais ainda, torná-la um setor tão competitivo como a gente vê em países da Europa, que tem aquela excelência no atendimento, porque o mineiro, em empatia, esse soft skills, o mineiro já está lá na frente, não é? (risos) 

RC: Helenice, você agora realmente teve um insight. Eu acho que o mineiro ele tem soft skills… outro dia eu estava brincando sobre isso e dialogando um pouco nos outros estados e alguém falou “ah, mas o mineiro tem baixa rejeição” (risos). Aí eu falei assim “de fato, o mineiro é sempre bem-visto, é difícil uma pessoa não ter uma simpatia natural, é isso, é baixa rejeição”. E isso é interessante, porque de alguma maneira a Ânima traz isso também, tem uma simpatia, um soft skills talvez inato.  

HL: E leva isso para outras partes, não é? 

RC: Leva. Mas dito isso, a gente precisa profissionalizar mesmo, né. A gente estava falando do agro, de como o agro já é importante e como tem coisa para destravar.  

HL: Aí a gente passa para a área de serviços, de comércio e de turismo, a economia criativa aí é sem fim.  

RC: E é preciso destravar, né, olha só. Se a gente pega as nossas cidades históricas, sem muita organização profissional, mas melhorando nisso e progressivamente trazendo mais gente, porque os franceses, por exemplo, quando a gente fala de Le Cordon Bleu, eles não vêm ensinar a gente a fazer, eles vão vir trazer gastronomia francesa. Com a gente, a gente traz um modus operandi, um rigor no fazer com os nossos ingredientes.   

HL: Porque cozinhar a gente já sabe. 

RC: Claro, com a nossa cultura. Então como fazer com mais rigor, como servir, como se organizar em torno do setor hoteleiro produtivo e de hospitalidade.   

HL: Como olhar o business, olhar o negócio. 

RC: Como transformar isso em business. Imagina o mineiro, já vocacionado para isso, como você falou, se consegue agregar competências mais técnicas e profissionais com o que há de referência no mundo, eu acho que o céu é o limite.  

HL: É geração de valor, de renda, de mais emprego, que é a Ânima Educação entrando com o desempenho dela na área da educação, não é? 

RC: E aí as coisas vão se somando, acho que é por aí.  

HL: Rafael, a gente estava falando de números aqui, de resultados, essa boa fase que teve em 2023, o otimismo com 2024, né, a rede ter crescido e estar aí agora com uma taxa Selic abaixando, graças a Deus, né, até que enfim, porque passamos por maus bocados com essa taxa altíssima, o valor do dinheiro, o custo do dinheiro muito caro para todo mundo fazer empréstimo, para todo mundo pagar as dívidas, vindo um resultado financeiro da Ânima, que tem uma dívida líquida de R$3 bilhões, mas com essa queda da Selic, se cai 1% da Selic já entra no caixa cerca de R$30 milhões, quer dizer, isso é dinheiro para reinvestir no negócio, não é? 

RC: Perfeito. Helenice sempre muito bem-informada. 

HL: Fiquei assistindo lá a teleconferência. (risos) 

RC: Sempre muito bem-informada, isso faz parte da divulgação pública e muito nos orgulha. Nós tivemos um ano de 2023, como todo o setor produtivo brasileiro, difícil, por conta dos juros, e aí é importante para as pessoas entenderem. Às vezes para as pessoas que não estão nos negócios é difícil alcançar o porquê isso é tão… se bem que alcança, porque vê a taxa de juros do cartão de crédito. 

HL: O crédito rotativo, o crédito consignado, você vai no supermercado. (risos)   

RC: Alcança também, mas é isso. Você tem um resultado operacional ótimo, e aí você, de alguma maneira, quanto menos juros a gente tem, mais dinheiro a gente tem para investir em coisas novas, em projetos legais, em coisas que vão fazer a diferença, daqui a pouco a gente vai falar da Singularity também, e felizmente a Singularity University, que é outra vertical que a gente tem, e aqui nós estamos falando de inovação, acho que é importante falar, mas é fato você ficar menos preocupado com a parte financeira e mais preocupado com a parte da geração de riqueza, da geração de oportunidades, do crescimento, coisas legais, né. E a gente teve um ano que nos permite olhar para o curto prazo até, olhar pra 2024, 2025 e falar assim “poxa, então o que vem mais?” A Ânima, essa empresa tão vocacionada para coisas novas, para coisas inovadoras e para construção do futuro, quando passa por um ano desafiador como todo mundo, e quando apresenta resultados que surpreendem positivamente o mercado, fica todo mundo animado, né. E aí para onde a gente vai, né… 

HL Você falou aí da Singularity, né. Fala sobre essa representação, essa parceria, né, para a gente ter mais valor agregado aqui na educação. 

RC: Perfeito, eu vou dar um exemplo também. A Singularity é a universidade do Vale do Silício, onde reúnem pensadores, talvez, que estão tentando, não é nem só entender o futuro, é propor o futuro, antecipar o futuro. A Singularity trabalha com country partners, são os parceiros nacionais, e o country partner do Brasil da Singularity University somos nós, é a Ânima. Então isso irriga, quer dizer, é um tipo de pensamento, que aí, por exemplo, a gente está falando de blockchain, de IA, todo esse universo do que a gente vem discutindo de inovação e o mais alto… blockchain já está quase atrasado, no final das contas, e a IA também, a gente já passou o auge e está todo mundo pensando assim “o que vai de fato emplacar, e o que não vai”, mas a Ânima, e aí o setor educacional, por exemplo, ele fica sempre muito assustado com essas coisas, porque ele é muito tradicionalista, mas a Ânima não. Até porque a Singularity também é nossa, então de alguma maneira a gente traz isso no dia a dia. E por que é legal a Singularity? Ao mesmo tempo que a gente faz os eventos, então nós vamos ter o primeiro evento de Inteligência Artificial do Brasil, a gente está conversando com algumas cidades para ver aonde vai ser. A Singularity, eu vou dar um exemplo, a gente estava estudando o tribunal regional, conversando com o desembargador, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, e ele falava das fake news.  

HL: Que é um problema enorme. Em toda eleição tem. 

RC: Como esse é um problema da democracia. Não é um problema só do TRE, do Estado. 

HL: Não é um problema só do Brasil também, é no mundo inteiro. 

RC: Isso é um problema mundial. E é legal que, assim como a gente gosta de educação a partir de problemas, a gente está falando aqui a partir dos problemas. É a nossa metodologia. 

HL: É tentar ajudar a resolver na prática.  

RC: A gente sentado e conversando, a gente falou “bom, a gente tem a Singularity”, que é como esse conhecimento mais avançado que a gente tem e os pensadores mais sofisticados da Inteligência Artificial podem vir, a Ânima ser o mediador e construtor junto com a marca local, que no caso é a UniCuritiba, que a gente tem lá que é um dos principais formadores de grande parte… como a gente tem a Milton Campos em Belo Horizonte/MG, nós temos a UniCuritiba e a Milton Campos também é nossa, né, a gente tem esse orgulho. 

HL: Referência em advocacia e Direito, não é. 

RC: É similar, é sem comparações aqui, mas é para o Belo Horizontino e mineiro entender mais ou menos o que é a UniCuritiba lá em Curitiba/PR. 

HL: É o que é a Milton Campos para a gente aqui, não é? 

RC: Aí você fala assim “o direito é um lugar tradicional”. Não, o direito é um lugar que também está demandando inovação o tempo todo. A gente acabou de falar da fake news, que é uma área, digamos, da ciência política, ou do jornalismo, ou do direito, é de qual área? Você está falando de todas essas áreas juntas e a gente sentado com o Tribunal pensando em como a Singularity, com o mais alto pensamento e reflexão em Inteligência Artificial, pode ajudar o eleitor com a parceria com o poder. 

HL: Dá um exemplo, Rafael. Você já pode antecipar alguma coisa de como vocês estão levando ferramentas para a Justiça Eleitoral resolver isso. 

RC: É claro que você pode pensar de cara em um aplicativo, uma coisa em que o eleitor possa checar aquilo automaticamente, isso é uma das possibilidades. 

HL: Um ChatGPT aí mais avançado também que… 

RC: Isso, onde isso é mais natural. Você tem possibilidade assim, mas você tem parceiros, outra coisa legal. A gente estava falando da OC, dual e da proximidade de empresas. Quem sabe alguma empresa, alguma rede social, trabalhe na construção coletiva de uma solução que já traga a rede social também e que isso já automatize, você entende? Então, sem antecipar nada, essa coisa já está sendo feita, mas nós estamos falando de que? De uma empresa, que é de um setor, por exemplo, de rede social, com outra empresa que é do setor de educação, com o poder público, construindo em várias mãos tentando endereçar um dos problemas mais graves, e isso é gravíssimo, né, o problema da fake news é um problema de você estabelecesse, assim, o que de fato aconteceu e o que de fato não aconteceu, o porquê que as pessoas estão dizendo isso, o porquê as pessoas não estão dizendo aquilo. A gente tem fenômenos hoje da Democracia em que as pessoas estão tomando posição e nem sabem exatamente do quê e porque estão tomando aquela posição. 

HL: Todo mundo é dono da verdade, e brigas em famílias. O país totalmente polarizado, a gente não vai entrar em política aqui, mas é o papel da universidade também, não é? 

RC: Se o papel da universidade, ele sempre foi o de promover o debate, e a gente precisa sempre, sempre, exaustivamente promover o debate em busca, não exatamente de uma verdade, que nem existe a priori, mas pelo menos de uma… a democracia é esse lugar que permite inclusive discordância onde isso pode acontecer e a gente evoluir juntos a partir de diferenças em uma construção saudável de uma pólis, voltando lá nos gregos, né, de uma pólis minimamente… com um grau de saudabilidade maior. E agora a democracia como todos os outros setores, como todos os dilemas, a solução, como lá na ágora grega a gente conseguia colocar todo mundo na praça para debater, hoje não vai ser assim, mas como é que vai ser com a tecnologia, pensando positivamente, como a gente vai sair desse dilema, talvez, quem sabe melhor? A gente de alguma maneira, como sociedade, se cansando dessa espécie de doença contemporânea mesmo, e olhando a tecnologia e a educação como ferramentas para a gente sair dessa. E a Ânima não vai ter essa pretensão de falar “a Ânima vai construir essa solução para a democracia”, não é isso.  

HL: Mas se inserir nessa realidade, não é? 

RC: Mas a universidade como um todo precisa ser partícipe atuante de um desse que é um dilema contemporâneo, talvez um dos grandes dilemas da política contemporânea. 

HL: Rafael, são 18 mil educadores (entre docentes, e colaboradores e colaboradoras). Esse número aumenta ano a ano, tem o pessoal que aposenta, tem o pessoal que está entrando, tem novas matérias, então novas disciplinas, como está esse número, ele vai crescer? 

RC: Vai. A mudança da dinâmica do setor vai mudando a dinâmica muitas vezes do que é exatamente… então quando a gente está falando da Singularity, a gente está falando de um outro tipo de docente, quando você está falando da Ebradi, você está falando de uma pessoa que às vezes está no tribunal, ela não teria o tempo para dar aula numa sala de aula tradicional, mas pela tecnologia ela vai chegar no aluno que vai acessar esse curso da Ebradi junto com o seu curso de direito. Você nunca vai prescindir do professor no sentido clássico, e a Ânima tem no professor o centro do seu projeto. Então a nossa ideia é crescer a importância da figura do professor, mas não se furtar também a tentar entender o que será o docente nessa mudança toda. Então temos os nossos professores das graduações, os números são esses. 

HL: E eles também estão sempre fazendo cursos, né? A Ânima também está sempre incentivando e qualificando ainda mais essa mão de obra, não é? 

RC: Perfeito. A gente está tentando, inclusive, oferecer a ele a possibilidade de também participar através dos seus próprios cursos. Os professores, hoje, também têm uma gama de conhecimento cada vez mais ampla para oferecer, e eles também são referências em suas áreas, também tem rede social, eles também se manifestam.  

HL: Eles têm o canal de TV deles, né? Próprio (risos) 

RC: Então é preciso que a gente entenda esse ecossistema do docente. Olha que interessante, a gente tá falando aqui de um monte de ecossistemas e aí, de fato, a gente vai pensar a questão do docente, está pensando de maneira muito efervescente, de forma positiva, não no ciclo da escassez. Sabe aquela história lá atrás da tecnologia diminuir os empregos… não, não vai. 

HL: Vai acabar com os empregos, o que as pessoas vão fazer, não é? 

RC: Se você for olhar, em todos os setores existe essa discussão e esse medo, e em nenhum deles… o que acontece é uma mudança das relações, da forma com que aquilo se desenvolve e das competências necessárias para aquilo continuar. Isso é com qualquer setor, as pessoas sabem disso, estão desafiadas, a geração mesmo nos desafia, e o nosso professor tem respondido de maneira muito legal, sabe, Helenice. O grau de proatividade, é uma lenda a ideia de que o professor é refratário à mudança, o professor precisa ser bem convidado ao debate. 

HL: É, e isso precisa ser estimulado, remunerado. 

RC: Precisa ser estimulado, remunerado, valorizado. E não aquele sujeito passivo que também de alguma maneira resiste a entender aquilo que em qualquer setor, qualquer dinâmica precisa ser compreendido, as coisas estão mudando muito rápido. Agora, tem coisa que não muda. É sempre interessante, não sei se foi o Jeff Bezos ou alguém, muita gente já falou isso, mas assim, a gente sempre tem que refletir o que está mudando e a gente está falando muito de mudança, mas também temos que refletir aquilo que não muda. Olha que interessante, a figura do professor desde o início da humanidade nunca se alterou, a centralidade dele nunca se alterou.  

HL: Essa autoridade, essa referência. 

RC: Exatamente. Essa figura referencial, essa figura importante para pólis, essa figura decisiva. O conhecimento segue importante e seguirá, a forma como ele acontece é que muda. O professor é a mesma coisa. Não há nenhum indício, nem da Ânima, de que o professor perderá essa etapa, pelo contrário, ele segue sendo um fator central. Agora como que o nosso professor, de alguma maneira, vai se habilitar e como nós vamos ajudar o nosso professor a ele se posicionar de uma maneira mais dinâmica nesse desafio, mas central ele sempre será. Esse convite é legal, o que muda… a gente sempre fala em todas as entrevistas o que muda, mas talvez se a gente conseguir pensar também o que não muda, a gente tem também luzes interessantes para o futuro. 

HL: A imagem do professor é essa. E aí um recado final, né, Rafael, a gente já está chegando ao final, para aquele pessoal que eu estou vendo muito falar nas redes sociais, olha, agora todo mundo quer ser tiktoker, quer ser blogueiro, influenciador digital e não precisa estudar. Deixa um recado para esse pessoal da necessidade de procurarmos sempre agregar valor às nossas vidas. 

RC: Olha, na verdade isso é uma das maiores armadilhas que se pode ter, e aí é claro, isso é uma reedição de uma certa lógica no Brasil, eventualmente isso existia no futebol. O menino tinha o sonho de ser jogador de futebol e via ali um ou outro que conseguia se destacar, e na verdade não sabe que a grande maioria tem uma grande dificuldade. 

HL: Todo mundo queria ser Pelé, não é?  

RC: É uma repetição da mesma dinâmica. Existe muito influenciador, mas precisa existir alguém influenciado também, daqui a pouco tem mais influenciador do que gente para ser influenciada. (risos) 

HL: Eles começam a dar cursos e, assim, curso de quê? Que conteúdo é esse? 

RC: E outra coisa, na própria dinâmica você vai ver, seja formal, seja informalmente, a maioria das pessoas são extremamente bem-informadas, extremamente bem atualizada, muito bem assessorada, pode ter uma figura ali, mas você tem uma equipe gigante por trás. 

HL: Com aquela promessa de ganhar muito bem, ganhar R$15 mil por mês. 

RC: E você tem uma cadeia extremamente profissional que suporta aquele profissional, que é quem aparece diante da tela. Essas pessoas estão extremamente bem-informadas. E a questão da formação, ela pode até não ser necessária em alguns casos no sentido formal da educação, mas como a gente está falando de qualquer ofício, se alguém que se propõe a fazer aquele ofício não tiver arraigada a ideia de que você precisa se formar para o resto da vida, como alguma coisa do seu cotidiano, não é aquele momento em que você para e vai estudar para fazer aquilo o resto da vida, o processo de aprendizado se dá agora em cada interação, em cada momento, a gente conversando aqui, quem está assistindo, quem vai comentar sobre isso, quem vai depois assistir um outro vídeo no Youtube que a gente citou aqui, de uma escola que vai pesquisar depois, esse é o ponto. Talvez você não precise daquela história do paradigma anterior, você precisa daquele percurso já predeterminado, quando você tem tal idade você sabe o que vai acontecer na sua vida inteira. Isso não tem mais, mas talvez, pelo contrário, a educação só se dê de outras configurações, mas ela está cada vez mais necessária. Eu acho que, assim, a educação naturalmente precisa ir se reconfigurando na sociedade contemporânea como alguma coisa decisiva e que vai unificar os outros setores todos. E de novo, a educação não existe, Helenice, a gente pode falar isso com segurança, é difícil afirmar hoje alguma coisa com segurança, mas não existe caso de país que tenha se desenvolvido e tenha chegado num estágio interessante que não tenha sido a partir da educação.  

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