Situação descontrolada

‘Pandemia’ das drogas ‘k’ causa caos em presídios

Droga sintética “dribla segurança das cadeias em Minas e expõe falta de preparo de policiais penais para conter avanço

Por Jonatas Pacheco
Publicado em 12 de abril de 2024 | 05:00
 
 
 
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A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e a Polícia Civil de Minas investigam ao menos 13 mortes em dois presídios de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de BH, ocorridas desde dezembro do ano passado. Sete delas aconteceram nos últimos dez dias. A causa dos óbitos, segundo a Sejusp, é suposta overdose por uso de entorpecentes da família “K”. A droga tem driblado a segurança carcerária, ainda ineficiente para detectar a substância incolor e sem cheiro, imperceptível a olho nu quando borrifada em papel ou diluída em tecido e outros objetos. 

A gravidade da situação já tinha sido relatada pelo Super em reportagem especial há cerca de um ano, quando foi mostrado como o sistema prisional servia de porta de entrada para essa nova droga, antes de ela se espalhar pelas ruas. De lá para cá, a situação ficou fora de controle, segundo um agente penal que atua no presídio Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana de BH, um dos maiores de Minas. “Nós vivemos uma verdadeira pandemia das drogas ‘K’. Praticamente todo preso utiliza esse tipo de entorpecente, e o número de mortes com certeza é muito maior”, relatou a fonte, com exclusividade, ao Super.

“Se um ano atrás a gente levava de três a quatro presos que passavam mal à UPA por mês, com o aumento de consumo das drogas ‘K’, esse número passou para cerca de 70”, contou o policial penal.

Ainda segundo ele, as consequências do consumo ultrapassam os danos à saúde de quem faz o uso do entorpecente. “As mortes não são apenas por overdose. Muitos deles ficam agressivos quando usam a droga e causam desordem; e os outros presos, para controlar a situação, agridem a pessoa até ela morrer. Aconteceu isso na última semana”, afirmou.

O homem também relatou que falta preparo para os policiais penais, já que a Sejusp não oferece capacitação nem orientação para identificar e impedir a entrada das drogas “K” nos presídios. “O que a gente sabe foi porque aprendeu com os próprios detentos e pela televisão. Precisamos de apoio do Estado”, disse.

O fato relatado pela fonte foi confirmado pelo Sindicato da Polícia Penal de Minas Gerais (Sindppen-MG). “Ainda não tivemos nenhum tipo de treinamento específico para tratar dessa droga dentro do sistema prisional”, reforçou Magno Soares, diretor de comunicação da entidade.

O que diz a Sejusp

Por meio de nota, a Sejusp informou que "as mortes de todos os detentos estão sendo tratadas com a seriedade e o profissionalismo que o tema exige. Apesar de todas elas estarem sob investigação e não ser possível afirmar a causa dos óbitos e nem mesmo qualquer possível relação com o uso de drogas, a Sejusp está debruçada sob o tema, com equipes especializadas na temática de políticas sobre drogas atuando em procedimentos de prevenção e análise minuciosa do tema."

Ainda de acordo com o texto enviado à reportagem, "revistas são feitas de forma rotineira em visitantes e nas celas, com o objetivo de coibir a entrada e permanência de materiais ilícitos na unidade prisional. Especificamente, o Depen-MG está em tratativas para uma grande campanha interna sobre os malefícios do consumo de álcool e drogas, em parceria com a Subsecretaria de Políticas sobre Drogas, da Sejusp". 

Sobre a cobrança por mais treinamentos, a secretaria ressaltou que "o governo de Minas tem investido continuamente na capacitação dos seus servidores e, para fortalecer esse trabalho, foi criada, em julho de 2023, por meio de decreto estadual, a Academia Estadual de Segurança Pública (AESP), subordinada diretamente ao gabinete do secretário da Sejusp". A pasta explicou que "a criação da academia estadual foi um marco, oferecendo cursos especializados para as forças de segurança, especialmente para a Polícia Penal."

Números da secretaria mostram que, desde 2021, cerca de 20,2 mil profissionais já passaram por diversos cursos, treinamentos e capacitações, sendo a maior parte desses servidores atuam como policiais penais. "De 3.540 servidores capacitados em cursos operacionais pela academia desde o último mês de julho, 2.823 são policiais penais", finaliza o texto. (Com Lucas Gomes e Rayllan Oliveira)

 

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