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Foto: (Aplicativos de mobilidade transformam rotinas, trânsito e relações de trabalho / Reprodução)

Desde 2014, frota de carros cresceu 51%, e a de motos ficou quase 30% maior em BH

Aplicativos de mobilidade transformam rotinas, trânsito e relações de trabalho

Por Lucas Morais Publicado em 29 de maio de 2023 | 08h00

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Nas ruas de Belo Horizonte, a lembrança de tempos não muito distantes ainda segue viva na memória da população. O ano era 2014, quando a chegada da Uber dava o pontapé inicial da operação dos até então desconhecidos aplicativos de mobilidade. Não demorou muito tempo para essa e outras plataformas se tornarem parte da rotina das pessoas. O principal motivo: a facilidade nos deslocamentos urbanos.

 

“Era bem complicado, só tinha ônibus ou táxi, com um preço absurdo. Depois ficou muito mais fácil rodar pela cidade”, recorda a assistente de saúde bucal Sandra Alves, 51. Desde a introdução dessas plataformas, a quantidade de carros na capital mineira cresceu 51%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

De um lado, a criação de um novo ecossistema econômico no Brasil, com impactos tanto na mobilidade quanto em oportunidades de renda. Do outro, os efeitos causados no já caótico trânsito de metrópoles como Belo Horizonte e as discussões cada vez maiores sobre a precarização do trabalho.

 

Em 2014, eram pouco mais de 1,14 milhão de automóveis na capital mineira, número que subiu para quase 1,8 milhão no ano passado. Em menor ritmo, o levantamento também aponta alta de quase 30% no volume de motocicletas nas ruas (de 204.016 para 264.154).

 

Apesar de não ter estudos específicos que apontem a influência dos aplicativos na frota da capital, o doutor em engenharia de transportes Frederico Rodrigues ressalta que o maior número de veículos impacta diretamente o trânsito. “Elas contribuem, sem dúvida, para a piora da operação do tráfego urbano, já que são mais carros em circulação. Com relação às plataformas de delivery, que se popularizaram muito, tendem a aumentar o índice de acidentes. As motocicletas, de forma geral, não afetam diretamente os congestionamentos, mas tendem a aumentar a quantidade de sinistros”, frisa.

 

Saúde e qualidade de vida

 

A coordenadora do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP) no Brasil, Lorena Freitas, acrescenta que, mesmo antes da chegada dos apps de mobilidade, já havia uma tendência no país de migração das pessoas do transporte coletivo para o individual, inclusive das pessoas de baixa renda. “No fim das contas, vejo que é algo muito problemático, já que o aumento da frota implica em termos de saúde pública, poluição do ar, engarrafamentos e perda da qualidade de vida em função do tempo perdido”.

 

De acordo com um estudo da empresa de software e monitoramento Inrix, divulgado neste ano, Belo Horizonte tem o segundo pior trânsito do Brasil, atrás apenas de São Paulo. A diferença é que a capital paulista tem uma população quase cinco vezes maior.

 

O levantamento aponta que o belo-horizontino fica, em média, 65 horas por ano parado em congestionamentos, com uma velocidade média dos veículos de 13 km/h nos horários de pico. Os dados ainda deixam o trânsito da capital entre os 50 piores do mundo.

 

 

Apps instauram revolução na rotina diária

 

A chegada das plataformas de mobilidade revolucionou a rotina de muita gente. A professora Flávia Batista, 48, lembra que atividades simples, como levar os filhos para a escola, eram complicadas para quem não tinha veículo próprio. “Eu mesma tenho filhos adolescentes e, se tivesse uma festa, ficava esperando para voltar para casa ou tentava carona com amigos. Só precisa tomar cuidado, porque, se usar muito, no final do mês, a gente vê a fatura do cartão de crédito e se assusta”, afirma.

 

O enfermeiro Carlos Teixeira, 31, lembra que muitas vezes precisava ir até um ponto de táxi ou ligar para as cooperativas para conseguir um veículo. “Se não tivesse perto de um local com os carros, não conseguia pegar um táxi. E, dependendo do horário, os números nem costumavam atender. No transporte público, muitas vezes você tinha um itinerário que nenhuma linha atendia”, enfatiza. E, junto com as plataformas de mobilidade, também aconteceu o crescimento dos apps de delivery de comida e bebida, potencializado pela pandemia da Covid-19.